Os santos pudores
Já todo o mundo
ouviu e reagiu relação ao mauzão do Jardim Zoológico de Copenhaga que por falta
de espaço e (por decreto europeu) para assegurar a diversidade genética entre
os seus animais criados em cativeiro decidiu abater uma girafa bebé sã lá
nascida chamada Marius e a deu de comer aos leões em plena assistência de
visitantes – pais que levaram os filhos a ver este “espectáculo”. Og
jornalistas cá fizeram correr rios de tinta, que deram azo a protestos e o
coitado do director do Zoo até foi ameaçado de morte. Até nos jornais
portugueses saiu a “notícia”.
Mas o público
esquece-se de que os jornalistas são a classe mais manipuladora da nossa
sociedade actual (a meu ver conseguem ser piores do que os políticos): criam as
realidades que querem salientando uns factos e calando outros. Sendo a girafa
um animal fofinho e pestanejudo foi a insurgência descomunal que foi. Mas neste
país matam-se milhares de novilhos e cordeiros para consumo e nunca vi uma
linha sobre isso. Genocídios por esse mundo fora raramente chegam aos
cabeçalhos e não desenvolvem polémica. Já para não falar do aborto livre desde
os anos 70 em que em nome da conveniência e dos direitos da mulher todos os
anos se matam centenas de fetos perfeitamente saudáveis.
E porque é que
Portugal se interessou pela notícia??? Em Portugal a tourada em si, actividade
mais bárbara e abjecta que atrai as massas não me ocorre – é permitida. E é
sempre defendida por os toiros terem tido uma boa vida até serem ali picados e
apunhalados. E nunca há crianças na assistência?
Por favor: mais uma vez apelo ao tento e sentido das proporções: têm que
haver coisas bem piores neste mundo do que ter-se morto uma girafa e alimentado
os leões com ela e em público. E se formos a ver na natureza as girafas seriam
presas naturais dos leões.
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