sábado, fevereiro 15, 2014

Os santos pudores 
Já todo o mundo ouviu e reagiu relação ao mauzão do Jardim Zoológico de Copenhaga que por falta de espaço e (por decreto europeu) para assegurar a diversidade genética entre os seus animais criados em cativeiro decidiu abater uma girafa bebé sã lá nascida chamada Marius e a deu de comer aos leões em plena assistência de visitantes – pais que levaram os filhos a ver este “espectáculo”. Og jornalistas cá fizeram correr rios de tinta, que deram azo a protestos e o coitado do director do Zoo até foi ameaçado de morte. Até nos jornais portugueses saiu a “notícia”.
Mas o público esquece-se de que os jornalistas são a classe mais manipuladora da nossa sociedade actual (a meu ver conseguem ser piores do que os políticos): criam as realidades que querem salientando uns factos e calando outros. Sendo a girafa um animal fofinho e pestanejudo foi a insurgência descomunal que foi. Mas neste país matam-se milhares de novilhos e cordeiros para consumo e nunca vi uma linha sobre isso. Genocídios por esse mundo fora raramente chegam aos cabeçalhos e não desenvolvem polémica. Já para não falar do aborto livre desde os anos 70 em que em nome da conveniência e dos direitos da mulher todos os anos se matam centenas de fetos perfeitamente saudáveis.
E porque é que Portugal se interessou pela notícia??? Em Portugal a tourada em si, actividade mais bárbara e abjecta que atrai as massas não me ocorre – é permitida. E é sempre defendida por os toiros terem tido uma boa vida até serem ali picados e apunhalados. E nunca há crianças na assistência?
Por favor: mais uma vez apelo ao tento e sentido das proporções: têm que haver coisas bem piores neste mundo do que ter-se morto uma girafa e alimentado os leões com ela e em público. E se formos a ver na natureza as girafas seriam presas naturais dos leões.