Sesta e cafeína
Cresci numa cultura de bicas e sestas e nunca pensei no paradoxo de tomar a obrigatória bica de depois de almoço, seguida de uma sestazinha. Supostamente o café mantém-nos acordados. Mas e nessas circunstâncias?
Bem, a ciência interessou-se pelo fenómeno a que chamam “cafeine nap” (red.: sesta cafeinada). E pelo que li, há pessoas em que tomar um café antes da sesta dá ao cérebro uma injecção extra de energia, que só um café ou só uma sesta não dariam. E esta, hein?
Funciona da seguinte forma: a sensação de sono advém da adenosina, um neuromodulador que se vai acumulando no cérebro à medida que as células queimam energia durante o dia, ligando-se a receptores especializados, os A1, A2A, A2B, e A3, que regulam, entre outras funções, o sono. Estas ligações inibem a actividade neural e fazem-nos sonolentos. A cafeína antagoniza a adenosina, bloqueando os tais receptores; uma vez bloqueados não permitem que a adenosina se ligue a eles, e em vez da actividade cerebral abrandar, as células do cérebro continuam activas e mantêm-nos alerta.
As sestas e a cafeína “reiniciam” o cérebro: as sestas limpam-no da adenosina e a cafeína bloqueando-a. Combinadas são, portanto, uma arma poderosa, se a sesta for breve, idealmente menos de meia-hora, que é o tempo que leva o efeito da cafeína a fazer-se sentir. Foi o que um estudo recente revelou: 200 mg. de cafeína antes de uma sesta de 30 minutos reduziam a fatiga e melhoravam o desempenho cognitivo.
Claro que o que o corpo quer sempre é equilíbrio, e à medida que a cafeína bloqueia os receptores de adenosina, o corpo gera mais para compensar, o que exige quantidades mais elevadas de cafeína para conseguir o mesmo efeito. Daí termos de evitar beber café demais.