sexta-feira, abril 19, 2013

Campanha “terrorista”
De momento a televisão estatal dinamarquesa (a RTP de cá) anda a fazer uma campanha em que deitam abaixo a medicação antidepressiva. Nos primeiros programas foram tremendamente manipulativos apresentado somente opiniões que apoiavam este ponto de vista. Até que um dos peritos no assunto, um psiquiatra muito conceituado, pôs a boca no trombone e os acusou de manipular a opinião: tinham-se dado ao trabalho de o entrevistar, mas como o que ele tinha a dizer não confirmou a messagem que queriam transmitir – nomeadamente que estes medicamentos não têm efeitos nenhuns beneficiais, para além de deixar as pessoas dependentes e mais suicidais – nem sequer mostraram a entrevista. Em vez disso mostraram o caso de uma mãe bem jovem que “por causa do tratamento” se enforcou.
Eu trabalho diariamente com pessoas internadas com depressões e também não posso confirmar esta descrição. Aliás há muitos pacientes que não estariam ao alcance da psicoterapia se não estivessem medicados. E preocupada com o perigo de estes abandonarem o tratamento por causa dos malfadados programas em que jornalistas se armam em especialistas, escrevi um mail ao canal, em que expunha que tinha pena do tal suicídio, mas que era um disparate dizer que este tinha tido como causa o tratamento, já que a depressão em si – com ou sem tratamento - tem como um dos sintomas mais habituais os pensamentos suicidas. E que muitas vezes é mais fácil para uma família culpabilizar a medicação por uma tragédia assim do que tentar perceber e aceitar que o seu ente querido “escolheu” pôr termo à vida. Agora que a família da jovem esteja afectada emocionalmente e pense assim é uma coisa, mas que um canal de serviço público vá em histórias histéricas é, a meu ver, inaceitável e, isso sim, pode pôr a vida de muitos pacientes em perigo se os levar a abandonar o tratamento.
Enfim, expus os meus argumentos. E anteontem recebi um mail automático com bla bla bla isto e bla bla bla aquilo “e que se eu tivesse uma depressão e pensamentos suicidas para onde ligar e para não parar o tratamento e falar com um médico se os programas me tivessem assustado, porque me arriscava a ter uma recaída”. Primeiro fiquei irritada: não há nada pior que um mail automático. Depois ri-me um bocadinho: afinal os gajos ficaram com medo das consequências das baboseiras que para ali andaram a dizer.