Vida de praia
Tenho o privilégio de ter a praia a poucos metros de casa. Quilómetros e quilómetros de areia branca e água limpida e cristalina. Sinto que é minha, já que usufruo dela todo o ano: de Inverno agasalho-me da cabeça aos pés e vou lá ver uma paisagem deserta que aparenta o polo norte, com blocos de gelo enormes de formas irregulares; de Outono e Primavera e até fins de Junho a praia também é quase toda minha, escassos são os que por lá passam. Mas no pino do Verão transforma-se: multidões de forasteiros de todas as idades e feitios enchem-na de lés a lés, mais de fim de semana. Uns vêm passear as tatuagens, pavoneando-se para trás e para diante vezes sem fim. Há quem traga piquenique e bebidas frescas, outros fazem churrasco e ainda outros contentam-se com as sandes e gelados do barzinho. Nada-se, mergulha-se, seca-se ao sol. Lançam-se papagaios de papel, joga-se à bola, faz-se surf, apanham-se conchas. Ao fim do dia evacua-se a praia, mas a areia testemunha ainda sobre quem a povoou por umas horas apenas: um balde ou pá à deriva, pauzinhos de gelados, caricas e latas vazias abandonadas aqui e acolá. O que mais me irrita são as beatas - uma, duas, três...vinte cinco, vinte seis...perdi-lhes a conta. Os fumadores devem ter uma deficiência semântica ou visual qualquer, confundindo a extensão imensa de areia com um cinzeiro gigante. Ou talvez tenham a teoria errônea de que as beatas mais tarde ou mais cedo se dissolverão tal como os castelos de areia arquitectados pelos putos à beira mar. A praia é de todos, mas deviam ter mais cuidado com a minha praia...
4 Comments:
concordo contigo. as beatas são uma verdadeira praga. cá agora há cinzeiros descartáveis à entrada das praias oferecidos por marcas poderosas, como a vodafone, ou então latas pintadas por crianças para o mesmo efeito.
O que é de espantar é isto acontecer num país dito tão civilizado e virado para a ecologia, bla, bla, bla...e ninguém ainda ter pensado numa solução para este problema. Cinzeiros descartáveis, porque não? Ainda irei a tempo de tirar patente? : )
Acho que o problema, no país em que vives, talvez seja o facto de a praia não ser fonte de receitas com os turistas. Porque, infelizmente, a ecologia funciona muito melhor quando dá dinheiro!
Uma observação perspicaz, Tikka! Não tinha pensado ainda nessa perspectiva. É o costume: fico-me sempre pelo face value das atitudes de cada um. Se a ingenuidade paga-se selo, eu estava toda carimbada... : )
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