Consumidor consciente
Para mal dos meus pecados de há uns anos para cá tenho vindo a dar comigo a tornar-me uma consumidora consciente. Creio que começou com o boicote a produtos franceses quando França há anos resolveu levar a cabo explosões atómicas numa ilha do Pacífico. E esta mania tem vindo a desenvolver-se cada vez mais. Reajo às informações que a tenho acesso, evitando apoiar países com atitudes com que politicamente, moralmente ou ecologicamente não concordo, e produtos potencialmente contaminados e estou atenta também a outros factos que considero importantes como o nível de gordura, colesterol, açucar, aditivos, conservantes, etc.
Fazer escolhas conscientes é muito bonito e solidário, mas torna uma simples ida às compras num quebra-cabeças. Ontem por exemplo fui fazer compras para um jantar de amigos lá em casa. Comecei por pensar em fazer tapas. Mas não podia ser tapas, porque tapas são espanholas e os espanhois sempre nos lixaram. Salvei a situação chamando-lhes petiscos. Assim sim. Dirigi-me à secção dos queijos. Vi um Feta de aspecto apetitoso, mas Feta é grego e os gregos derrotaram-nos desmerecidamente no Europeu. E que tal um Camembert? Pior ainda: o Camembert em questão era francês e os franceses bateram-nos no Mundial há menos tempo ainda, doloroso demais! Queijo holandês também estava fora de questão por motivos óbvios, brutamontes! Já estava a ver que de lá saia sem levar queijo, por isso optei por um Ricotta italiano - ganharam o Mundial mas foi sem nos chatearem directamente. Prateleira após prateleira os dilemas repetiram-se: gordura demais; país errado; açucar demais; risco de salmonelas. Escolher os legumes foi relativamente fácil, na sua maioria são locais e eticamente produzidos, segundo sei. Excepto o abacate israelita que deixei ficar para trás nesta época histórica conturbada.
Se não me punha a pau tinha vindo do supermercado com um molho de rabanetes e uma garrafa de água, o que não seria uma ementa ideal para um jantar de amigos.