Intromissão fora de horas
Não sei se já repararam que há pessoas, que por natureza fariam óptimos polícias e inspectores de colégio, que fazem da sua mais nobre missão apontar o dedo, sublinhar o que acham ser erros, corrigir os demais e dar lições de moral, muitas vezes intromentendo-se em assuntos raramente da sua conta.
Ontem atravessou-se uma dessas pestes no meu caminho. Eram 16h30. Ia eu animada a ouvir música no carro e ia buscar o meu marido, ainda “inválido” e portanto dependente da minha boleia, ao emprego. O parque de estacionamento do edifício onde trabalha estava cheio de automóveis de empregados ambiciosos e dedicados, que raramente deixam o posto de trabalho antes das 17h30-18h. Por falta de lugar estacionei o carro à frente de outro para fazer o trajecto de minuto e meio e ir buscar o meu cara-metade. Nisto vejo um cinquentão de bicicleta (!), especado, a olhar para mim. “Estás a pensar deixar o carro assim?!”, perguntou-me em tom acusatório. “É só um minuto”, retorqui em minha defesa, intimidada, como é habitual, pela voz e atitude de quem se faz de autoridade. “Não podes deixar ficar o carro aí! E se outro carro quiser sair?”
Barafustei por entre dentes, mas voltei a meter-me no carro. Liguei a ignição. E ele ainda especado. Fiz-lhe sinal que seguisse, porque me estava a deixar nervosa e a manobra já de si seria difícil pela falta de espaço. Fez-me sinal de que seguisse eu. E só quando viu o carro a fazer marcha é que “descolou” e se foi embora.
O que mais me chateou foi não conseguir ignorá-lo, ou descompô-lo de uma forma rápida e sofisticada logo ali...
... o costume... grrr!
A deixa ideal só me veio à cabeça (muitos, muitos) minutos mais tarde: ”E se se metesse na sua vida?” Ou: “Deve ter uma vida muito chata, desinteressante e triste, para não ter nada melhor para fazer a esta hora do que estar a chatear”. Ou mesmo: “Ouça lá: você talvez não tenha capacidade para tirar uma carta de condução, mas é permitido pelo código parar em segunda posição, desde que seja brevemente, sua besta!”
(foto: scottmon @ flickr.com)
5 Comments:
ou podias nem sequer ter respondido e ido calmamente à tua vida, ignorando-o.
tb fico furiosa quando não consigo responder à letra. provavelmente teria feito o mesmo que tu, deixa. grrrr
Hehehe... caganda chato! CHIÇA! Mas devias ter deixado lá o carro e ido buscar o teu inválido. O gajo teria corado de vergonha quando visse as muletas e talvez até tivesse pedido desculpa por não se ter lembrado de que há casos em que se justifica parar em segunda fila.
Obrigada pelo apoio moral, meninas. Confesso que desde então que tenho andado a alimentar o desejo sadista de voltar a ver o chato, para repetir a situação, mas desta vez comigo na mó de cima : D
Da próxima vez (se a houver) ignoro-o sim (digo eu agora, toda valente...) e deixo o carro ainda pior estacionado, para ele ver. Ha!
se o voltares a encontrar, esmaga-o com a tua indiferença!
Gostei da expressão "esmaga-o", he he he (risinho sádico e maquiavélico) he he he : )
Esmaga-lo-ei, esmaga-lo-ei, tanta vai ser a minha indiferença que sairá dali esmagadinho.
Enviar um comentário
<< Home