Discussões astronómicas
Ontem fomos dar um passeio à beira-mar. Estava maré baixa. E como crianças perguntámo-nos: “porque estará maré baixa uns dias e maré alta outros?” Dos nossos dias de escola lembravamo-nos vagamente de ter uma relação qualquer com a gravidade ou o poder de sucção da lua ou coisa do género.
Mesmo com umas bases de conhecimentos bastante frágeis, gerou-se um debate aceso:
- (eu) “Está maré baixa, porque está lua cheia.”
- (ele) “Não é nada disso.”
- (eu) “Mas a lua parece estar mais perto da Terra do que é costume. Deve por isso sugar a água do mar tipo aspirador e deitá-la noutro sítio. Daí a maré baixa.”
- (ele) “Que disparate. A maré fica alta, porque a lua puxa a água e a faz subir de nível em certos sítios.”
- (eu) “Não, não, acho que a lua não está sempre no mesmo sítio; talvez tenha órbitas diferentes que seguem a passagem dos meses e a órbita da Terra à volta do sol. Por vezes está numa órbita mais próxima e afecta as marés.”
- (ele) “Nada disso, bla bla bla.”
- (eu) “Soa absurdo” etc. e tal.
Concluimos depois de várias trocas assim que talvez fosse melhor consultar uma enciclopédia ou a internet quando chegássemos a casa.
A curiosidade estava porém desperta. De modo que o meu cara metade me perguntou de seguida:
- “Estás a ver aquelas nuvens? Vê lá em que direcção se movem!”.
- (eu) “Movem? Não as estou a ver mover-se.”
- (ele) “Movem-se, movem-se – olha com atenção…”
- (eu) “Ah, sim, de norte para sul.”
- (ele) “Qual de norte para sul?! De oeste para este. Mas o vento vem da direcção oposta, já reparaste?”
- (eu) “Pois, mas em contrapartida a explicação é fácil: a milhares de quilómetros de altura a pressão não é necessariamente a mesma que ao rés da terra.”
- (ele) “Milhares de quilómetros? Então quando vais de avião não chegas às nuvens num ápice?”
- (eu) “Hmmm... nunca cornometrei...”
- (ele) “Que amoroso. As nuvens não devem estar a mais de dez quilómetros de altura.”
Rimo-nos os dois – da nossa ignorância e dos mitos e ideias que se criam e estabelecem, quando não se sabe o suficiente ou não se percebem todos os factos, apesar de dezenas de anos de escolaridade e livre acesso à informação.
Lembrei-me dos mitos com que os povos antigos explicavam fenómenos naturais – como a carruagem que diariamente puxava o sol através dos céus; trovoadas como a manifestação rancorosa dos deuses e as colheitas como um exemplo das suas benesses.
E porque não? Na falta de melhor pelo menos traria um compreensão aceitável a coisas de outro modo imcompreensíveis e por vezes assustadoras.
A título de curiosidade, segundo a Wikipédia, o termo maré refere-se aos fenómenos sentidos num corpo devido à perturbação do campo gravítico causado pela interferência de um ou mais corpos externos. No caso deste artigo, maré é identificado com o fenómeno da alteração da altura dos mares e oceanos, causado pela interferência da Lua e do Sol sobre o campo gravítico da Terra.
Num campo gravitacional terrestre ideal, ou seja, sem interferências, as águas à superfície da Terra sofreriam uma aceleração idêntica na direcção do centro de massa terrestre, encontrando-se assim numa situação isopotencial (situação A na imagem). Mas devido à existência de corpos com campos gravitacionais significativos a interferirem com o da Terra (Lua e Sol), estes provocam acelerações que actuam na massa terrestre com intensidades diferentes. Como os campos gravitacionais actuam com uma intensidade inversamente proporcional à distância, as acelerações sentidas nos diversos pontos da Terra não são as mesmas. Assim (situação B e C na imagem) a aceleração provocada pela Lua têm intensidades significativamente diferentes entre os pontos mais próximos e mais afastados da Lua. Desta forma as massas oceânicas que estão mais próximas da Lua sofrem uma aceleração de intensidade significativamente superior às massas oceânicas mais afastadas da Lua. É este diferencial que provoca as alterações da altura das massas de água à superficie da Terra.
Quando a maré está em seu ápice chama-se maré alta, maré cheia ou preamar; quando está no seu menor nível chama-se maré baixa ou baixa-mar. Em média, as marés oscilam em um período de 12 horas e 24 minutos. Doze horas devido à rotação da terra e 24 minutos devido à órbita lunar.
A altura das marés alta e baixa (relativa ao nível do mar médio) também varia. Nas luas nova e cheia, as forças gravitacionais do Sol estão na mesma direcção das da Lua, produzindo marés mais altas, chamadas marés de sizígia. Nas luas minguante e crescente as forças gravitacionais do Sol estão em direcções diferentes das da Lua, anulando parte delas, produzindo marés mais baixas chamadas marés de quadratura.
Mais iluminados? Pessoalmente vou ter de ler isto muitas vezes e com muita calma para perceber uma terça parte…
5 Comments:
eu não li tudo, confesso ; ) gostei mais do diálogo inicial : )
Estou contigo: tenho que ler mais vezes... :)
Nada como um diálogo pseudo-científico inflamado entre dois peritos de pé descalço da astrofísica para animar a malta ; )
O texto ”esclarecedor” final foi mais em honra da minha ignorância, que não minguou por isso... só convidou a confusão a instalar-se ainda mais : S
Nada como um passeio pelo teu blog para aprender coisas novas.
Hoje aprendi sobre marés e anémonas, e gostei muito. Foi bom voltar aqui! Vou ver se consigo vir (outra vez) com frequência!
Volta sempre, optimist! E se levas algo contigo deste cantinho, melhor ainda : )
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