sábado, outubro 28, 2006


África minha - África nossa
Luzes. Num palco vários instrumentos - guitarras, violas, o cavaquinho, o saxofone, maracas, o clarinete, o violino, baterias, guizos, tambores. Em cima de uma mesinha uma garrafa de água, um copo, uma toalha e um maço de tabaco, e ao lado uma cadeira a jeito.
Em palco entra a banda africana. A sala aplaude. Em seguida entra a diva, de pé descalço e o carisma que a tornou legendária até por estas paragens. Canta numa língua que eu penso compreender, mas afinal só em parte, esporadicamente. Mornas, coladeiras, canções tradicionais do seu Cabo Verde, tons melancólicos. Na sala dança-se ao ritmo da música. A artista aparentemente só fala o crioulo e não comunica muito com o público, mas mesmo assim tem-no na palma da sua mão.
África, África, África, África minha, África nossa” ”África, África, África berço di mundo, continente fecundo. África, África, África”.
A meio do espectáculo começa a notar-se o peso dos anos, o cansaço é óbvio. Põe a banda a tocar um número instrumental e vai sentar-se à mesinha a fumar um cigarro, aparentemente alienada do que decorre no palco e na sala. Bebe um trago de água e volta, recomposta.
Canta. Despede-se com um ”tchau e até amanhã” despretencioso. Por insistência do público volta a entrar em palco para mais dois números. E deixa logo de princípio muito claro que decidiu ficar-se por isso. A apoteose final.
Ontem fui a convite de uma amiga (aliás como prenda de anos adiantada) a um concerto da Cesária Évora. Só a conhecia de nome. Deixei-me embalar pela sua música. Fascinou-me a sua humilde presença em palco - veio para cantar e foi o que fez e nem mais. Encheu a sala sem aditivos artificiais como bailarinos e coreografias complexas.
Gostei imenso.
África, África, África, África minha, África nossa”. A música continuou a ecoar horas e horas depois de terminado o concerto na minha jukebox interna.

2 Comments:

Blogger papel químico said...

sodade, sodade...!
adoro a cesária évora. que bela prenda : )

29 outubro, 2006 21:59  
Blogger Vida de Praia said...

Foi óptima a prenda, sim. E fiquei bastante surpreendida, pois tinha "encucado" que não apreciava "mornas". Afinal apreciava e muito : )
Depois fui pesquisar à net sobre o seu percurso de vida e de carreira e ainda mais fascinada fiquei - que coragem lançar-se numa carreira artística e deixar o país natal aos 47 anos!

29 outubro, 2006 22:27  

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