À vontade
À primeira vista pode por vezes não parecer, mas eu sou – e sempre fui – uma pessoa extremamente reservada. Em miúda ficava no meu canto sem dizer uma palavra ou “levantar cabelo” para com estranhos. Por isso sempre admirei quem se sentisse mais à vontade e parecesse ter confiança na aceitação dos demais.
Como um casal amigo que nos veio visitar na semana passada. Vemo-nos 1-2 vezes por ano, o que dá sempre azo a um constrangimento inicial, que se vai dissipando aos poucos ao longo de horas de convívio.
Desta vez os primeiros a dar sinal do à vontade acrescido foram os filhos deles de 5 e 10 anos de idade: foram os primeiros a terminar a refeição e como não estavam para ouvir conversas de adultos, perguntaram se podiam ir ver desenhos animados. Tudo bem: sentei-os à frente do ecrã; e antes de ter tempo de lhes preparar uns snacks, o mais novo veio atrás de mim e perguntou: “não tens doces para nós?” – é que Sexta-feira é dia de doces e lá porque estavam fora, não acharam que havia necessidade de prescindir do que é bom :-)
Os pais também ficaram mais à vontade à medida que os minutos passavam. A mãe dos putos foi a certa altura ao escritório, onde os putos estavam a ver desenhos animados, para verificar se estava tudo nos conformes; e voltou de livro debaixo do braço: tinha encontrado na minha estante um de que tinha ouvido falar e que pediu que lhe emprestasse. E para completar uma noite descontraída, com as crianças já a dormir no sofá e na cama de hóspedes, o pai de repente levantou-se e, literalmente como se estivesse em casa, dirigiu-se ao escritório e por auto-recreação ligou o computador para nos mostar uma referência qualquer na Internet.
Confesso que a minha primeira reacção foi um misto de confusão e espanto, mas quem me dera conseguir vir um dia a sentir-me tão descontraída fora de casa!
16 Comments:
mas é assim que eu espero que te sintas em minha casa!
Amiga, sinto-me muito à vontade em tua casa, mas nem te iria ao frigorífico, nem ao computador, nem às estantes, nem... ;-D
mas podes ir à vontade. se fores ao frigorífico espero que tenhas a sorte de o encontrar cheio (geralmente tento que esses dias coincidam com dias de visitas - nem sempre consigo, é verdade :), as estantes são para ser consultadas, o computador tb está às tuas ordens para actualizares a sacola quando estiveres por cá...
Muito obrigada! :-) Então vou tomar do meu próprio remédio (ou seja: praticar o que digo todo o dia aos meus pacientes que façam, nomeadamente que mudem os seus padrões de pensar e agir, se estes não ajudam) e treinar o ter mais ”lata” ou menos vergonha na cara :-)
Eu não quero parecer parva, mas eu não faço isso na casa de ninguém. Ninguém mesmo. Tirando a minha casa, evidentemente, e a casa do meu namorado (onde passo a maior parte do tempo)... mas até mesmo na casa do meu namorado, às vezes peço autorização para fazer isto ou aquilo, não gosto de mexer naquilo que é a privacidade dos outros.
Eu também sou tímida com desconhecido, aliás... pelo que me dizem... ERA tímida... eu posso não conhecer ninguém de lado nenhum, mas se é amigo do amigo, começo a falar e nunca mais me calo. Mas mexer nas coisas dos outros... nunca!
«[...] não tens doces para nós? [...]»
Ai, no meu tempo o que nós fazíamos a miúdos desses!
«[...] voltou de livro debaixo do braço [...]»
Ai, no meu tempo o que nós fazíamos a pessoas dessas!
«[...] literalmente como se estivesse em casa, dirigiu-se ao escritório e por auto-recreação ligou o computador [...]»
Ai, no meu tempo o que nós fazíamos... não fazíamos porque já tínhamos feito há muito!
Marta: não pareces nada parva; como dito eu também fiquei de boca aberta; mas 3 exemplos de completa descontracção numa só noite foi o suficiente para me tirar do sério e levar-me a ver o lado humorístico deste episódio totalmente sui generis. E assim que cheguei a esse ponto, pensei logo para comigo que isso iria dar um post soberbo, mesmo do estilo que se coaduna com a Sacola :-)
Gostei da tua excepção para com os amigos dos amigos; pois eu cá inicialmente sou tímida com toda a gente.
Jaime: cá para mim isso é só “goela”: os teus amigos de certeza que tiram o teu tubarão do seu frasco para lhe fazer uma festinha, vão dar uma volta com as tuas cadelas igualmente sem pedir licença e vão-te logo ao computador para ver o que investaste agora para o blogue :-D
bom, se calhar dei a sensação de que ando a abrir os frigoríficos de toda a gente : ) o que quis dizer foi que, havendo intimidade para isso, claro que me sinto à vontade para folhear um livro ou abrir o frigorífico para arrumar qualquer coisa se, por exemplo, estiver a ajudar a levantar a mesa depois de um jantar. também não vejo nada de errado em usar o computador, mas claro que pediria antes. por outro lado, gosto quando os meus amigos se sentem à vontade em minha casa para comer uma maçã, abrir uma janela, pôr um CD a tocar, cravar doces... não levo a mal, mas se calhar nunca tive nenhuma experiência de "invasão" teritorial.
Bom, eu também não me importo que façam isso na minha casa... mas... sei lá, não seria agradável ir comer um chocolate e deparar com a caixa vazia ou qualquer coisa assim!!
Isso de arrumar coisas depois de um jantar, obviamente que também faço, mas pergunto sempre à pessoa se posso arrumar... Não sei porquê, mas acho que fazer as coisas sem autorização é invadir o espaço dos outros!
«[...] os teus amigos de certeza que tiram o teu tubarão do seu frasco para lhe fazer uma festinha [...]»
Tenho muitos amigos manetas. ]:->
Interessante como este tema dos limites da privacidade deu que falar.
Amiga papel: prometo que da próxima vez que estiver em tua casa demonstrarei o meu à-vontade comendo uma maçã, abrindo uma janela, pondo um CD a tocar e, claro, cravando-te doces :-)
Marta: então o teu constragimento é em relação ao armário potencialmente às moscas dos amigos, é isso? Realmente era embaraçoso ter uma ideia idelizada de uma amiga como uma pessoa de despensa bem apetrechada e descobrir que afinal é uma desorganizada ;-D
A sério: eu também tenho essa tendência de me sentir acanhada e de ter de pedir autorização... isto é: se me atrevo, o que raramente é o caso... ai, estas inibições!... Precisamos as duas urgentemente de terapia, estou mesmo a ver... ;-)
«Tenho muitos amigos manetas. ]:->»
Ex-amigos, não, jaime? ;-P
Nã, eu acho que estou bem assim. Falo pelos cotovelos, mas pelo menos não invado fisicamente a privacidade de ninguém! :) Mas se quiseres terapia e pagares bem... eu faço-a! :D
Ha ha, olha para ela, logo com olho para o negócio. Não, não, está-se bem, porque assim, como as coisas estão, «pelo menos não invado fisicamente a privacidade de ninguém» ;-) Mas obrigada pela oferta.
Vida de Praia e Marta, podem sempre comprar o meu livro "Como Se Auto-Curar Pelo Poder Da Mente E Outras Tretas Que Não Funcionam Realmente Mas Sempre Me Vão Dando Algum Dinheiro Com A Venda Destes Livros Que Nem Sequer Fui Eu Que Escrevi". Êxito garantido. 100%.
LOL
Esse título parece-me familiar... o autor não é um tal de Psicoanalista Espertalhão que Nos Tempos Livres Faz Biscates do Género Livros Sobre Como Se Auto-Curar Pelo Poder Da Mente E Outras Tretas Que Não Funcionam Realmente Mas Sempre Lhe Vão Dando Algum Dinheiro Com A Venda Desses Livros? ;-D Obrigada pela sugestão.
Eu também sou mais ou menos assim na casa das outras pessoas.
Muito calado e tal..
Beijo
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