sexta-feira, fevereiro 08, 2008

À vontade
À primeira vista pode por vezes não parecer, mas eu sou – e sempre fui – uma pessoa extremamente reservada. Em miúda ficava no meu canto sem dizer uma palavra ou “levantar cabelo” para com estranhos. Por isso sempre admirei quem se sentisse mais à vontade e parecesse ter confiança na aceitação dos demais.
Como um casal amigo que nos veio visitar na semana passada. Vemo-nos 1-2 vezes por ano, o que dá sempre azo a um constrangimento inicial, que se vai dissipando aos poucos ao longo de horas de convívio.
Desta vez os primeiros a dar sinal do à vontade acrescido foram os filhos deles de 5 e 10 anos de idade: foram os primeiros a terminar a refeição e como não estavam para ouvir conversas de adultos, perguntaram se podiam ir ver desenhos animados. Tudo bem: sentei-os à frente do ecrã; e antes de ter tempo de lhes preparar uns snacks, o mais novo veio atrás de mim e perguntou: “não tens doces para nós?” – é que Sexta-feira é dia de doces e lá porque estavam fora, não acharam que havia necessidade de prescindir do que é bom :-)
Os pais também ficaram mais à vontade à medida que os minutos passavam. A mãe dos putos foi a certa altura ao escritório, onde os putos estavam a ver desenhos animados, para verificar se estava tudo nos conformes; e voltou de livro debaixo do braço: tinha encontrado na minha estante um de que tinha ouvido falar e que pediu que lhe emprestasse. E para completar uma noite descontraída, com as crianças já a dormir no sofá e na cama de hóspedes, o pai de repente levantou-se e, literalmente como se estivesse em casa, dirigiu-se ao escritório e por auto-recreação ligou o computador para nos mostar uma referência qualquer na Internet.
Confesso que a minha primeira reacção foi um misto de confusão e espanto, mas quem me dera conseguir vir um dia a sentir-me tão descontraída fora de casa!

16 Comments:

Blogger papel químico said...

mas é assim que eu espero que te sintas em minha casa!

08 fevereiro, 2008 10:30  
Blogger Vida de Praia said...

Amiga, sinto-me muito à vontade em tua casa, mas nem te iria ao frigorífico, nem ao computador, nem às estantes, nem... ;-D

08 fevereiro, 2008 11:16  
Blogger papel químico said...

mas podes ir à vontade. se fores ao frigorífico espero que tenhas a sorte de o encontrar cheio (geralmente tento que esses dias coincidam com dias de visitas - nem sempre consigo, é verdade :), as estantes são para ser consultadas, o computador tb está às tuas ordens para actualizares a sacola quando estiveres por cá...

08 fevereiro, 2008 11:30  
Blogger Vida de Praia said...

Muito obrigada! :-) Então vou tomar do meu próprio remédio (ou seja: praticar o que digo todo o dia aos meus pacientes que façam, nomeadamente que mudem os seus padrões de pensar e agir, se estes não ajudam) e treinar o ter mais ”lata” ou menos vergonha na cara :-)

08 fevereiro, 2008 11:57  
Blogger Marta said...

Eu não quero parecer parva, mas eu não faço isso na casa de ninguém. Ninguém mesmo. Tirando a minha casa, evidentemente, e a casa do meu namorado (onde passo a maior parte do tempo)... mas até mesmo na casa do meu namorado, às vezes peço autorização para fazer isto ou aquilo, não gosto de mexer naquilo que é a privacidade dos outros.
Eu também sou tímida com desconhecido, aliás... pelo que me dizem... ERA tímida... eu posso não conhecer ninguém de lado nenhum, mas se é amigo do amigo, começo a falar e nunca mais me calo. Mas mexer nas coisas dos outros... nunca!

08 fevereiro, 2008 15:16  
Anonymous Anónimo said...

«[...] não tens doces para nós? [...]»
Ai, no meu tempo o que nós fazíamos a miúdos desses!

«[...] voltou de livro debaixo do braço [...]»
Ai, no meu tempo o que nós fazíamos a pessoas dessas!

«[...] literalmente como se estivesse em casa, dirigiu-se ao escritório e por auto-recreação ligou o computador [...]»
Ai, no meu tempo o que nós fazíamos... não fazíamos porque já tínhamos feito há muito!

08 fevereiro, 2008 19:51  
Blogger Vida de Praia said...

Marta: não pareces nada parva; como dito eu também fiquei de boca aberta; mas 3 exemplos de completa descontracção numa só noite foi o suficiente para me tirar do sério e levar-me a ver o lado humorístico deste episódio totalmente sui generis. E assim que cheguei a esse ponto, pensei logo para comigo que isso iria dar um post soberbo, mesmo do estilo que se coaduna com a Sacola :-)
Gostei da tua excepção para com os amigos dos amigos; pois eu cá inicialmente sou tímida com toda a gente.

Jaime: cá para mim isso é só “goela”: os teus amigos de certeza que tiram o teu tubarão do seu frasco para lhe fazer uma festinha, vão dar uma volta com as tuas cadelas igualmente sem pedir licença e vão-te logo ao computador para ver o que investaste agora para o blogue :-D

08 fevereiro, 2008 22:35  
Blogger papel químico said...

bom, se calhar dei a sensação de que ando a abrir os frigoríficos de toda a gente : ) o que quis dizer foi que, havendo intimidade para isso, claro que me sinto à vontade para folhear um livro ou abrir o frigorífico para arrumar qualquer coisa se, por exemplo, estiver a ajudar a levantar a mesa depois de um jantar. também não vejo nada de errado em usar o computador, mas claro que pediria antes. por outro lado, gosto quando os meus amigos se sentem à vontade em minha casa para comer uma maçã, abrir uma janela, pôr um CD a tocar, cravar doces... não levo a mal, mas se calhar nunca tive nenhuma experiência de "invasão" teritorial.

09 fevereiro, 2008 00:32  
Blogger Marta said...

Bom, eu também não me importo que façam isso na minha casa... mas... sei lá, não seria agradável ir comer um chocolate e deparar com a caixa vazia ou qualquer coisa assim!!
Isso de arrumar coisas depois de um jantar, obviamente que também faço, mas pergunto sempre à pessoa se posso arrumar... Não sei porquê, mas acho que fazer as coisas sem autorização é invadir o espaço dos outros!

09 fevereiro, 2008 04:06  
Anonymous Anónimo said...

«[...] os teus amigos de certeza que tiram o teu tubarão do seu frasco para lhe fazer uma festinha [...]»
Tenho muitos amigos manetas. ]:->

09 fevereiro, 2008 08:48  
Blogger Vida de Praia said...

Interessante como este tema dos limites da privacidade deu que falar.

Amiga papel: prometo que da próxima vez que estiver em tua casa demonstrarei o meu à-vontade comendo uma maçã, abrindo uma janela, pondo um CD a tocar e, claro, cravando-te doces :-)

Marta: então o teu constragimento é em relação ao armário potencialmente às moscas dos amigos, é isso? Realmente era embaraçoso ter uma ideia idelizada de uma amiga como uma pessoa de despensa bem apetrechada e descobrir que afinal é uma desorganizada ;-D
A sério: eu também tenho essa tendência de me sentir acanhada e de ter de pedir autorização... isto é: se me atrevo, o que raramente é o caso... ai, estas inibições!... Precisamos as duas urgentemente de terapia, estou mesmo a ver... ;-)

«Tenho muitos amigos manetas. ]:->»
Ex-amigos, não, jaime? ;-P

09 fevereiro, 2008 11:38  
Blogger Marta said...

Nã, eu acho que estou bem assim. Falo pelos cotovelos, mas pelo menos não invado fisicamente a privacidade de ninguém! :) Mas se quiseres terapia e pagares bem... eu faço-a! :D

09 fevereiro, 2008 16:33  
Blogger Vida de Praia said...

Ha ha, olha para ela, logo com olho para o negócio. Não, não, está-se bem, porque assim, como as coisas estão, «pelo menos não invado fisicamente a privacidade de ninguém» ;-) Mas obrigada pela oferta.

09 fevereiro, 2008 17:13  
Anonymous Anónimo said...

Vida de Praia e Marta, podem sempre comprar o meu livro "Como Se Auto-Curar Pelo Poder Da Mente E Outras Tretas Que Não Funcionam Realmente Mas Sempre Me Vão Dando Algum Dinheiro Com A Venda Destes Livros Que Nem Sequer Fui Eu Que Escrevi". Êxito garantido. 100%.

10 fevereiro, 2008 10:43  
Blogger Vida de Praia said...

LOL
Esse título parece-me familiar... o autor não é um tal de Psicoanalista Espertalhão que Nos Tempos Livres Faz Biscates do Género Livros Sobre Como Se Auto-Curar Pelo Poder Da Mente E Outras Tretas Que Não Funcionam Realmente Mas Sempre Lhe Vão Dando Algum Dinheiro Com A Venda Desses Livros? ;-D Obrigada pela sugestão.

10 fevereiro, 2008 10:48  
Blogger Graça said...

Eu também sou mais ou menos assim na casa das outras pessoas.
Muito calado e tal..

Beijo

12 fevereiro, 2008 12:47  

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