Para ser gozado tudo serve (e de pequenino é que se torce o pepino)
O recreio sempre foi arena de pequenos e grandes dramas, palco da criação de hierarquias sem dó, de gozos e maus tratos dignos da atenção dos graúdos, mas que muitas vezes passam despercebidos, invísiveis a olho nu. As vítimas são sempre as que se destacam por serem diferentes: a miúda fanzina, o rapaz ruivo com sardas, o de óculos, o gordinho, quem se sai mal e tem más notas, ou quem tem as melhores notas. A mais alta, o mais baixo da turma. Quem não tem o brinquedo da moda ou a roupa das marcas certas.
Sei-o de primeira mão: nunca tive o aspecto certo nem a roupa ideal, era envergonhada e calada, boa aluna e nunca aprendi a defender-me – uma combinação péssima para quem queira ser popular ou aceite, ou pelo menos não queira dar muito nas vistas.
Mas parece que hoje já nem as cuecas podem ser anónimas. Quem não apareça nos balneários com a roupa interior que esteja em voga corre o risco de ser gozado, estigmatizado, de passar o resto do ano lectivo à parte – ou por vezes o resto da vida num ostracismo irremediável.
Mas onde é que já chegámos nesta nossa sociedade de abastança, em que quem não se conforme da cabeça aos pés sofre as consequências da nossa mente já desde o berço infinitamente obtusa?
Os meus heróis costumam ser os indivíduos que não se subjugam nem sujeitam ninguém a esta visão das coisas, que não se deixam ditar por modas, cuja auto-estima é indomável. Sempre quis ser um deles...
4 Comments:
join the club. eu, na verdade, sempre tive um pé num lado e um pé no outro. era mais ou menos popular, no sentido em que não tinha dificuldade em fazer amigos, mas nunca pertenci realmente e nenhum grupo. deambulava entre os queques e os freaks, os marrões e os charrados. era aparentemente extrovertida, mas irremediavelmente insegura e tímida. continuo um pouco assim. gosto de coisas muito diferentes, diametralmente opostas. dou-me com pessoas muito diferentes. mas falta-me um pouco aquela sensação de pertença. não pertenço a nenhum lado. não tenho um frasco onde me sinta confortável. e geralmente passo uma imagem totalmente errada de mim própria. é muito frequente (muito mesmo) dizerem-me, a princípio achei-te... mas até que és...
Também nunca pertenci a nenhum grupo - nunca lhes despertei interesse, creio, e passei portanto os anos de escola na periferia das turmas, com uma ou outra amiga com que me dava mais. O que sempre me fez bastante vulnerável, se esta amiga de repente me virava as costas.
Dá que pensar como o outro lado da medalha da tua liberdade de movimentos e de escolha e a tua variedade de interesses é a falta da sensação de pertença.
E francamente nunca percebi as pessoas que fazem uma ideia errada e negativa de ti!...
Também eu queria ser um desses heróis...
OK, então este nosso clube já tem 3 membros... ; )
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