quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Mas para o telemóvel há sempre
Sempre me fascinou aquele fenómeno próprio das favelas e dos países mais pobres, onde apesar da mais extrema pobreza de fazer impressão – de passarem fome, de andarem vestidos com farrapos e nem terem sapatos, de não poderem pagar os custos de necessidades básicas de saúde, escolaridade, etc e de viverem em condições psicosocialmente precárias – há sempre uma televisão. E, pelo que li, também há pelo menos um telemóvel por família.
Segundo li num artigo no jornal Metroxpress há dias, um relatório da ONU afirma, que mais de metade dos utentes (mais precisamente 58%) de telemóveis encontram-se nos ditos países em desenvolvimento. Segundo dizem, só no Uganda nos últimos 10 anos o número de telemóveis cresceu de nenhum para 1.5 milhões (!). E quando por lá passam europeus, ou por qualquer outro sítio mais remoto, o que o pessoal quer são telemóveis.
No tal artigo, afirmavam que o preço das chamadas era bastante baixo nesses países, mas sempre devem custar qualquer coisa. E nem é para ser preconceituosa, pois sei perfeitamente que em muitos desses países a população até é bastante carenciada. E até compreendo que tenham necessidade de comunicar com os amigos e ligações de negócios a longa distância e tal. Mas alguém me explica, como é que há dinheiro para carregar o telemóvel e não o há para comprar pão e leite ou tapioca?

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É estranho, não é? Talvez o telemóvel seja um sinal de estatuto social, e o estatuto esteja acima do segundo pão do dia.

27 fevereiro, 2008 12:49  
Blogger Vida de Praia said...

Deve ser por isso, mas que é tremendamente bizarro, lá isso é: hmmm... como é que é possível manter o estatuto social, se para o fazer tem de se estar vivinho da costa e se não se come, portanto não se sobrevive?...

27 fevereiro, 2008 13:19  
Blogger papel químico said...

em lisboa a senhora do restaurante onde eu costumava almoçar contava que grande parte dos clientes só comiam de faca e garfo no fim do mês e o resto do tempo andavam a sopa e um salgadinho. e, no entanto, era vê-los todos vestidos com marcas, relógios e telemóveis topo de gama.
suponho que ter esse tipo de objectos crie uma ilusão de bem-estar, como se fossem a chave para entrar noutro mundo. é um sinal. não me falta tudo e de qualquer modo não me vês a barriga. sei lá. tu é que és a especialista nestas coisas.

27 fevereiro, 2008 17:24  
Anonymous Anónimo said...

Vida de Praia, não digo que se troque o primeiro pão do dia pelo telemóvel, "só" o segundo.

Talvez o estatuto social seja uma arma de sobrevivência que justifique trocar-se um pão por ela. Não sei como, estou só a "atirar coisas para o ar".

Talvez a pirâmide de Maslow esteja errada e ter um telemóvel seja uma necessidade mais básica do que ter um pão. (Agora de ver a pirâmida fiquei a pensar no quão baixo estou nela.)

27 fevereiro, 2008 17:44  
Blogger Vida de Praia said...

Papel químico: obrigada pelo relato bizarro da vida real. É pelos vistos isso que o mundo quer: sonhos e ilusões!... E a barriga que pague :-S

Jaime: bem, hoje estás particularmente inspirado para as teorias e metafísicas (mas também tens treinado bem estas áreas no teu blogue ultimamente)! ;-) Perdão, não tinha percebido a do primeiro e segundo pães (talvez por em África, pelo que dá a parecer, irem ambos à vida em troca do telemóvel).
Ou é como dizes, ou a versão que mandaram para África da famosa pirâmide de Maslow não ia completa ou chegou lá de pernas para o ar. Típico!...: “ai vai para África? Olha, contentem-se com material de segunda qualidade”.
Então conta lá: em que cor da pirâmide é que te encontras afinal? Não desanimes: enquanto há vida, há esperança e são pouquíssimas as pessoas que me vêm à mente que se encontram nos “degraus” mais altos da pirâmide.
E já agora que estamos numa de análises, reparei que a pirâmide no artigo do teu link vai das cores quentes para as mais frias... interessante: quanto mais desenvolvimento, menos calor (?...)

27 fevereiro, 2008 18:22  
Anonymous Anónimo said...

Vida de Praia, eu dizia-te que estou lá para a parte de baixo do amarelo, mas como sou daltónico, não te sei dizer.

«Ah!, e isso não está bom para nós, manda para África.» Donde se infere que os africanos são piores do que nós. As pessoas nem notam o que dizem.

Muito boa a tua observação das cores. Acho eu, não sei realmente dizer, pois sou daltónico.

PS. Não sou realmente daltónico, mas tenho um familiar daltónico, o que é quase a mesma coisa.

27 fevereiro, 2008 19:46  
Blogger Vida de Praia said...

OK, deixa-me ver ser te percebi bem... tu és... aspirante a dáltónico em segundo grau, certo? ;-D
... O que significa portanto que... estás mesmo, mesmo, literalmente na parte de baixo do amarelo, certo? Nada mau: estava a ver-te mais no fundo do laranja, isto por causa das regulares referências ao teu advogado e ao teu tubarão de estimação... mas eu sou tão pessimista, pá :-D

««Ah!, e isso não está bom para nós, manda para África.» Donde se infere que os africanos são piores do que nós. As pessoas nem notam o que dizem.»
Podes crer!...

27 fevereiro, 2008 22:12  

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