sábado, agosto 26, 2006

Zoófila
Uma análise rápida mostra que há dois tipos de adultos que frequentam os jardins zoológicos: professores de biologia e pais de filhos. (“Então e avós?”) Ok, e avós de netos. Eu também sempre delirei com as idas ao zoo. Mas não pertencendo a nenhuma destas categorias, não querendo ser apelidada de infantil nem querendo ter de pedir emprestado um sobrinho, cada vez que me apetece ir dar uma volta ao jardim zoológico sinto que tenho de arranjar um alibi para não destoar: se alguém inquirisse a razão da minha presença diria-me zoófila, uma amante da natureza e da fauna em particular. A verdade, porém, é que lá vou porque mantive o meu fascínio de miúda; em relação ao zoo sou infantil mesmo (mas só em relação ao zoo, não fiquem vocês com uma ideia errada a meu respeito!...)
O jardim zoológico de Lisboa em Sete Rios continua a ser o meu favorito. Conheço-o praticamente de cor. Manteve o estilo clássico apesar de tentar seguir os tempos e vontades e já ter havido bastantes renovações. E tem hipopótamos!
O jardim zoológico de Copenhaga também vale a pena visitar. É moderno, os animais têm condições relativamente humanas e é ajardinado. Costumo começar pelos gibões que vivem numa ilha num navio semiaberto e adoram balançar-se nas cordas que ligam a sua modesta habitação às árvores de que fazem trapézio. Passa-se pelos pelicanos de papo cheio, pelos mochos e corujas com ar de quem dormita, pelos flamingos cor de crustáceos, que segundo dizem são a sua alimentação essencial. Pelos macacos de todos os géneros e feitios. Virando à esquerda vai-se dar de um lado com as focas sempre contentes a bater palmas, e do outro com os ursos – os polares, os castanhos que têm crias brincalhonas, os negros de colar. Não tarda muito passamos pelo casarão dos elefantes. Os pinguins parecem sempre prontos para festa de gala, mas na realidade preferem um bom mergulho na água gélida. Adoro passar pelas jaulas dos leopardos e dos tigres, cujas crias adoram brincar às caças com uma pele de coelho que puxam ferozmente entre si.
Mas a parte que mais me atrai é a zona tropical – dispenso os bicharocos repugnantes do fundo da floresta (as baratas, centopeias e aranhas gigantescas por exemplo), o mesmo se pode dizer das cobres e serpentes. Os camaleões são giros, mas normalmente tentam esconder-se. As borboletas dançam animadamente pelo ar ou pousam ao de leve nos hibiscos. Mas o que eu verdadeiramente vim para ver são o micos-leões dourados da Amazónia (leonthopitecus rosalia). São macaquinhos minúsculos de pelo alaranjado. Perdi para eles o meu coração em Lisboa, quando um enfiou o braço por entre as grades e me apertou o dedo. Pulam de galho em galho, brincam com a fruta e parecem derretidos com tanta atenção. Por mim ficava ali o resto do dia, mas o meu marido lembra-me gozão de que ainda há mais para ver: os papagaios, os papa-formigas, o covil dos leões, as girafas de pescoço alçado e cabeça nas nuvens, os antílopes e impalas, as zebras, as avestruzes, os cangurus, as tartarugas das Galápagos, os lemures, os lamas, os rinocerontes, os camelos (ou serão dromedários? Nunca me lembro de qual é a diferença), até burros lá há. Mais de 3300 animais de 270 espécies. Um dia bem passado, que merece ser repetido em breve, estava a chegar ao fim. Foi então que me apercebi de que ainda não tinhamos visto os obrigatórios hipopótamos. Démos voltas e mais voltas – certamente um jardim zoológico que se preze tem hipopótamos? O de Copenhaga, por estranho que pareça, não tem nem um!

2 Comments:

Blogger tikka masala said...

Nunca me esqueci de uma ilustração num fascículo que tenho sobre animais (Os Bichos) que mostra um camelo com um "B" deitado sobre as bossas, para mostrar que é ele que tem duas (o B é de "camelo Bactriano"). E nunca mais tive dificuldade em lembrar-me de que o que tem só uma é o dromedário, cuja bossa também estava "enfeitada" com a letra D!

28 agosto, 2006 18:07  
Blogger Vida de Praia said...

Olha que técnica mnemónica excelente! Obrigada pela dica - nunca mais me esqueço.
Já agora, não terás uma boa técnica para fazer lembrar a diferença entre esquerda e direita? É outra daquelas coisas que uma vez por outra ainda me confunde...

28 agosto, 2006 21:15  

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