domingo, setembro 17, 2006


... com o palho no comboio ao circo...
Um dos sinais de que o Verão está em decrescente são as turnés dos circos de cidade em cidade. O circo Benneweis, provavelmente o maior circo da Dinamarca e da Escandinávia, está acampado num terreiro por onde passo todos os dias a caminho do trabalho. Ver as roulottes, os cartazes coloridos com fotos de animais ou palhaços afixados nos postes, a tenda enorme no centro do acampamento, traz memórias. Desde miúda que sempre detestei o circo. Os superlativos e sotaques exagerados: “Sêêêêênhores e sêêêêênhoas, o mêêêlhor circô do mundo apresentá só para vóish os malabaristash máish engênhososh, os trápezistash máish audaciôsosh, os pálhaçôsh máish divêrtidosh, os elefantêsh máish bém amestrádosh do mundô!...” Sempre me irritaram os cães vestidos à homem a empurrar carrinhos de bonecas com as patas dianteiras, os leões sem ferocidade a saltar através de arcos em chamas, os palhaços com nomes de funções fisiológicas – Atchim e Espirro – ou de comida – Omelete, Batatinha, Esparguete e Cebolinha – e maquilhagem carregada; o rico sempre com razão e lições de moral, e o pobre a quem tudo corre mal e acaba sempre por levar com uma tarte na cara. As mulheres com maiôs de lantejoulas apertados demais.
Por azar os meus pais todos os anos pelo Natal me levavam ao circo para a festa de Natal do emprego. E o único consolo, depois de uma sessão insuportavelmente longa e penosa de malabarismos e palhaçadas, eram os brinquedos que recebíamos.

Já não vou ao circo há anos e anos. E este ano vou voltar a abdicar.

2 Comments:

Blogger tikka masala said...

Que bom, já pensava que era a única! Eu ABOMINO a alegria forçada e decadente dos palhaços, o olhar melancólico e profundamente triste dos animais, a vida miserável daquela gente, que nunca fica escondida, mesmo sob camadas e camadas de brilho e lantejoulas. Agora a minha filha quer ir ao circo. Eu já lhe disse que não há-de ser comigo...

17 setembro, 2006 11:04  
Blogger Vida de Praia said...

Olha, e eu que pensava que era a única!... Descreveste precisamente o que eu também detesto, abomino, odeio mesmo, nos circos: aquela alegria exagerada e falsa que parece tentar a todo o custo esconder uma tristeza e miséria profundas por debaixo de tanta "habilidade", cor, luz e música!
O meu marido diz que sempre adorou o circo e olhou para mim com cara de "quem é esta marciana?" quando lhe falei do tópico do post de hoje. Posso ser marciana, mas pelo menos já não o sou sózinha ; )

17 setembro, 2006 14:03  

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