Solidariedade social
Às vezes fico surpreendida com os contrastes que se vêm nesta nossa sociedade pós-moderna, em que lado a lado por exemplo se vê o extremo da civilização e o extremo da inconsideração. Pensei nisto enquanto esperava pelo metro há dias. Para me ir entretendo ia vendo a publicidade nos ecrãs: um anúncio ao novo filme do Agente 007, Casino Royale, com o novo James Bond; um apelo à solidariedade para com as vítimas da fome num país africano; mas foi outro anúncio que despertou a minha atenção: um homem extremamente sorridente e ar positivo de mala à tiracol e fatinho. Em letras maiúsculas o título: “NÃO BERRO...”, seguido do texto “nem quando o metro vem com atraso e vou chegar atrasado à reunião”. “Os funcionários do metro só estão a fazer o seu trabalho”. Daí deduzi (porque ando de metro tão raramente que não tinha ouvido falar) que o pessoal nas estações deve ter sido vítima ou de maus tratos ou de agressividade verbal, o que terá levado à campanha em questão.
A minha pergunta é a seguinte: como é possível ser-se tão ciente dos direitos dos animais e da necessidade de preservar e proteger o ambiente e de ser-se solidário com povos noutro continente distante, quando ao mesmo tempo se é impertinente e bruto para com quem tenta prestar um serviço o melhor possível, sem ter a mínima influência em como decorrem as coisas, por um mero atraso de minutos de um transporte colectivo?
P.S.: Ontem foram por acaso confirmadas as minhas suspeitas: noutro anúncio da mesma campanha via-se um jovem sorridente: “NÃO BATO...”, “nem quando os funcionários do metro querem ver o meu bilhete ’esquecido’ ”.
2 Comments:
essa mesma sociedade em que vives já encontrou forma de proteger outra espécie ameaçada: os funcionários do metro. por cá deviam fazer uma campanha para defender os professores do secundário. os níveis de violência são assustadores.
Um ponto de vista interessante, papel químico - uma campanha de protecção a uma espécie, se não em vias de extinção, pelo menos tremendamente ameaçada.
Coitados dos "s'tores" do secundário: é preciso ter coragem, quando não há ninguém que os proteja...
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