terça-feira, outubro 31, 2006

Artigos de museu
Há umas semanas atrás estava num café e ouvi um homem aproximadamente da minha idade proferir distraidamente que uma artista da sua preferência tinha acabado de lançar um novo LP. Fez-se silêncio e algumas pessoas olharam para ele incredulamente. E o coitado apressou-se a justificar-se e a corrigir o que tinha acabado de dizer: “He, he, não sou tão velho como soei! Claro que queria dizer um novo CD”.
Fez-me pensar que várias coisas com que cresci, algumas já obsoletas, daqui a alguns anos serão artigos completamente desconhecidos do público mais jovem, só vistos em museus em visitas de estudo casuais: LP’s, gira-discos, cassetes, walkmans, esferográficas, máquinas de escrever, telefones fixos, agendas, máquinas fotográficas não digitais, rolos de 36, cassetes de VHF, leitores de vídeo, modems, disquetes, monitores com mais de 5 centímetros de espessura, chaves e fechaduras, bicos de gaz, notas e moedas, porta-moedas, AM e FM.
Até CDs.

segunda-feira, outubro 30, 2006

O que fazer na praia num dia de ventania em Outubro
Sendo eu uma fanática inveterada de praia e com ela praticamente à porta, usufruo dela durante todo o ano. “Mas o que fazer na praia num dia de ventania em Outubro?”, perguntam talvez. As possibilidades são variadas:
Ver o nascer do sol às sete e um quarto da manhã. Passear à beira-mar, bem agasalhada da cabeça aos pés.
Contar as alforrecas embriónicas que vieram dar à costa e se veêm espalhadas pela areia como transparentes lentes de vidro grosso.
Lançar papagaios de papel.
Fazer kitesurf ou windsurf.
Observar as gaivotas numa azáfama sôfrega, atirando-se destemidamente contra as vagas.
Sentar-se com o namorado num abraço num sítio abrigado nas dunas.
Para começar.
(foto: Doug Smith @pbase.com)

domingo, outubro 29, 2006

Contra a hora
Quando se tem tempo demais entre mãos, arranjam-se por vezes hobbies sui generis. Já não é a primeira vez que falo sobre estes aqui; e tornou-se mais uma vez actual com a mudança dos relógios uma hora para trás para a hora de Inverno entre a noite de ontem e as primeiras horas de hoje.
Já tinha ouvido falar em contra-relógio, aquele fenómeno ligado à Volta a França em bicicleta, um acontecimento anual que é mais eficaz contra a insónia do que qualquer medicamento potente. Mas até hoje não sabia da existência da Associação Contra a Mudança da Hora. Não estou a gozar: existe mesmo uma associação neste país – e aparentemente com filiais em vários países europeus – cuja única meta é tentar aniquilar a mudança da hora na Primavera. Reivindicam a hora unitária. O seu presidente (sim, que esta associação é tão organizada que até tem presidente e concelho de gerência) contesta que a hora que temos de Inverno é a única genuína, demarcada pelo meridiano 15. Que é um engano colectivo mudar a hora, como ter uma fita métrica elástica. Que faz confusão como uma mini jet lag, quando nos temos de levantar uma hora mais cedo de Verão. E que supostamente há atrasos enormes no sector os transportes a nível europeu devido à mudança da hora para a frente. Percebem como?

Só sei que me soube bem dormir mais uma hora esta manhã : )

sábado, outubro 28, 2006


África minha - África nossa
Luzes. Num palco vários instrumentos - guitarras, violas, o cavaquinho, o saxofone, maracas, o clarinete, o violino, baterias, guizos, tambores. Em cima de uma mesinha uma garrafa de água, um copo, uma toalha e um maço de tabaco, e ao lado uma cadeira a jeito.
Em palco entra a banda africana. A sala aplaude. Em seguida entra a diva, de pé descalço e o carisma que a tornou legendária até por estas paragens. Canta numa língua que eu penso compreender, mas afinal só em parte, esporadicamente. Mornas, coladeiras, canções tradicionais do seu Cabo Verde, tons melancólicos. Na sala dança-se ao ritmo da música. A artista aparentemente só fala o crioulo e não comunica muito com o público, mas mesmo assim tem-no na palma da sua mão.
África, África, África, África minha, África nossa” ”África, África, África berço di mundo, continente fecundo. África, África, África”.
A meio do espectáculo começa a notar-se o peso dos anos, o cansaço é óbvio. Põe a banda a tocar um número instrumental e vai sentar-se à mesinha a fumar um cigarro, aparentemente alienada do que decorre no palco e na sala. Bebe um trago de água e volta, recomposta.
Canta. Despede-se com um ”tchau e até amanhã” despretencioso. Por insistência do público volta a entrar em palco para mais dois números. E deixa logo de princípio muito claro que decidiu ficar-se por isso. A apoteose final.
Ontem fui a convite de uma amiga (aliás como prenda de anos adiantada) a um concerto da Cesária Évora. Só a conhecia de nome. Deixei-me embalar pela sua música. Fascinou-me a sua humilde presença em palco - veio para cantar e foi o que fez e nem mais. Encheu a sala sem aditivos artificiais como bailarinos e coreografias complexas.
Gostei imenso.
África, África, África, África minha, África nossa”. A música continuou a ecoar horas e horas depois de terminado o concerto na minha jukebox interna.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Procura-se: Sentido de orientação
Já imaginaram como deve ser não possuir o mínimo sentido de orientação, ser completamente desprovido de um sentido geográfico? Não fazer ideia de onde se está e como se lá chegou? Eu sou assim. Se não conheço o trajecto previamente não dou com o lugar, nem que esteja pintado de vermelho e devidamente assinalado com luzes fluorescentes a piscar raivosamente. Não estou a exagerar. E instruções para virar à esquerda ou à direita, ou que é na rua paralela ou perpendicular à outra só me confundem ainda mais. Com um mapa consigo orientar-me relativamente bem, mas na viagem de regresso tenho de o virar ao contrário, o que impossibilita ler os nomes das ruas.
Por isso fiquei orgulhosa quando há dias me ligou uma amiga a caminho da minha casa onde ainda não tinha estado e me pediu que a guiasse por telemóvel, o que fiz de cabeça (“Onde estás?” – “Ok... segues essa rua e no... segundo semáforo viras à direita, não, à esquerda”. “Ok, daqui a pouco vais passar por um restaurante chinês do teu lado direito”, etc, etc) e fui bem sucedida em trazê-la até à porta, sem precalços.
Já li a explicação científica para esta deficiência ou maneira sui generis de funcionamento espacial, que aparentemente parece ser mais inerente às mulheres do que aos homens (em “Why men don’t listen and women can’t read maps” de Allan & Barbara Pease, um excelente e recreativo livro sobre as diferenças entre os sexos). Tem tudo que ver com biologia neural e hormonas, uma informação que em si é um consolo, mas que pouca utilidade tem no meu-dia-a-dia.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Bem-vinda ao Hotel Sardinheira
De certeza que já ouviram falar de hotéis para cães – uma solução excelente para quem vai para férias e não pode levar o cão consigo para o destino.
Pois agora também já abriram vários hotéis de luxo para plantas. Normalmente são usados por quem tem plantas mais exóticas – palmeiras, limoeiros, sardinheiras, oliveiras – que podem estar no terraço ou no jardim em vasos durante o Verão, mas não aguentam o Inverno na rua e necessitam de um lugar mais quente onde “hibernar”. São plantas que atingem grandes dimensões em vasos de enorme diâmetro e nem toda a gente tem espaço para as ter dentro de casa de Outono e Inverno.
Para resolver o problema da falta de espaço, várias estufas oferecem os seus serviços: luz, temperaturas amenas, rega, adubo, cuidados especiais, se necessário um corte, durante a estadia de vários meses até chegar a Primavera e a planta favorita poder voltar para o respectivo jardim.
Exige reservas prévias feitas com alguma antecedência, como em qualquer outro hotel de luxo.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Impressão
Às vezes é o mais estranho e aparentemente irrisório que nos fica nitidamente gravado na memória. Por exemplo da escola primária lembro-me perfeitamente de sempre desenhar árvores de copa bicuda com maçãs vermelhas e pares de cerejas aos molhos nos bocadinhos livres depois dos ditados e composições; mas não me lembro de com quem é que brincava mais.
Não me recordo de ter havido uma altura na minha vida em que não sabia ler, escrever e calcular, mas tenho n memórias de desenhos e trabalhos manuais me sairem mal – borrados, tortos, mal picotados.
Sempre adorei andar na escola; no entanto poucas e difusas são as memórias que tenho de bons momentos, enquanto que as de maus fazem fila.
Não me recordo de ter uma boneca, um urso ou um brinquedo favorito. Passava os recreios a jogar à apanhada e a saltar ao elástico. Mas o que faria quando as outras miúdas brincavam com bonecas?
Lembro-me nitidamente de diversas circunstâncias em que o meu pai não me queria por perto e não queria ser incomodado: quando via as notícias ou lia o jornal; dizia para lhe sair de debaixo dos pés se íamos de passeio; não gostava que o visse a fazer a barba. Mas não consigo mobilizar muitas imagens dos momentos em que certamente reservava a sua atenção só para mim. Nos primeiros anos era ele que me levava ao colégio, com o cesto do almoço e o sempre presente termo. E todas as manhãs passávamos a caminho pela padaria e ele me comprava o mesmo bolo para o lanche. Mas conversávamos pelo caminho? E também me ia buscar, ou voltava eu para casa sózinha à tarde?
A minha memória parece uma caixa de tipos em que faltam várias letras ao acaso, maiúsculas e minúsculas.

terça-feira, outubro 24, 2006

“Está tudo acabado entre nós...vocês!...”
Para quem detesta conflitos e os evita a todo o custo foi estabelecida este Verão uma nova firma na Alemanha: como nunca é agradável acabar uma relação amorosa, a firma em questão especializou-se em fazê-lo por si. Por apenas 50 € o consultor dirige-se à sua futura ex-namorada e põe fim à relação. Ou pela metade do preço se o fizer telefonicamente: “Olá, sou o senhor fulano de tal do departamento de separações. O seu namorado contratou-me para que a informasse de que ele deseja por fim à vossa relação”. E por adicionais 13€ a mesma firma vai buscar as suas coisas a casa da namorada.
Segundo a escolha do cliente, a firma porá termo à relação de uma maneira ‘simpática’ e ‘amigável’, ou mais ‘directa’.
O cidadão alemão que criou esta firma para evitar conflitos amorosos pessoais já pensa em expandir o negócio e oferecer os seus serviços a relações de negócios e amizades que deram para o torto.
A ideia é das mais absurdas que tenho ouvido recentemente. Terá muitos clientes?
Triiiiiiiiiiiing! Triiiiiiiiiiiing! "Alô... sim, é a própria..."

segunda-feira, outubro 23, 2006


A passear o elefante
Há dias ouvi na rádio a caminho do emprego – e bem perto da “cena do crime” – uma daquelas notícias espantosas e insólitas pelo disparatado e impensável da questão: na noite anterior um homem tinha levado um elefante de circo a passear pelas ruas da cidade. O jornalista tinha-se dado ao trabalho de ligar à esquadra de polícia para inquirir se era ilegal. O guarda de serviço, se certamente boquiaberto, não o demonstrou. Respondeu concisamente que não havia nada de ilegal em levar um elefante à rua, desde que estivesse devidamente iluminado.
Parece uma ideia absurda, de loucos. Imaginem se tivesse sido um leão ou uma pantera. Ou um crocodilo. Ou uma piton...
Ou um tubarão ou uma baleia com rodas, se isso fosse possível?...
E já agora: alguém vê faróis ou piscas no animal?!...

domingo, outubro 22, 2006

Adooooooro lixo…
Há certos tipos de mentalidade que não percebo, nem nunca perceberei por muito que me esforce. E outros que nem sequer me esforço para entender, porque não acho que valha a pena. Um exemplo do último caso são as pessoas que aparentemente sem sombra de indecisão ou remorso deitam lixo para o chão. Para estas talvez foi recentemente inventada uma solução, a meu ver desesperada, mas desde que dê resultado...: caixotes do lixo falantes, que foram postos em vários sítios centrais de Copenhaga. Não sei se falam constantemente, se são activados pela proximidade de indiscriminados potenciais utentes, ou se são especialmente activados por umas células sensíveis especiais com a capacidade de farejar potenciais perpetradores desse acto vândalo e imperdoável que considero deitar lixo para a via pública. “Alô, vem cá com o teu lixo, ha ha... vê lá se acertas no caixote”. “Olááá, tens lixo para mim?” “Tu aí, dá cá o lixo, usa o caixote!” “Iu-u, tens alguma coisa para mim? Adooooooro lixo.
Continuo um pouco incrédula em relação a que alcancem o efeito desejado, mas tentarei não ser demasiadamente pessimista. Imagino em contrapartida facilmente o potencial para vários sustos, uma vez que normalmente vou a andar distraída, com a cabeça nas proverbiais nuvens e raramente na expectativa de que alguém se dirija a mim com conversa estranha. “Olááá, tens lixo para mim?
(Desenho por: Kamilla Christiansen)

sábado, outubro 21, 2006


Encontro
Há dias o meu marido convidou-me para sair. Queria levar-me ao seu sítio especial que frequenta assiduamente – “queres ir comigo à biblioteca?”
À primeira vista poderia parecer um convite trivial ou aborrecido. Mas a nossa biblioteca local é bastante interessante. Situada no edifício remodelado e modernizado de uma antiga fábrica, tem tudo o que se possa desejar para uma tarde bem passada. Tomámos um refresco no seu cafézinho simpático e depois fomo-nos sentar a ler, eu uma revista e o meu marido o jornal do dia. Na secção infantil procurámos os albuns de banda desenhada favoritos. Desta vez não trouxémos livros. Também tinhamos a possibilidade de utilizar livremente um dos muitos terminais de computador com acesso à net. Ou de assistir a uma das muitas exposições itinerantes ou a outros dos acontecimentos culturais lá realizados.
Preferimos pedir emprestados dois dvds para ver em casa à noite.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Vida de cão – ano 2006
Se ainda têm dúvidas de que vivemos numa sociedade economicamente privilegiada e cheia de gente visionária com muita imaginação e creatividade, então ouçam esta: depois da vaga que tem havido de remodelações luxuosíssimas de cozinhas e casas de banho, pelos vistos ainda há “papel” para mais. E os próximos beneficiados são os animais de estimação. O Fiel e o Bobi já não precisam de se deitar num cesto qualquer, que nem sequer condiz com a sala mobilada com imenso bom gosto. O melhor amigo do homem já tem direito a um móvel só seu, de design italiano e que se chama um “sofá para cães”, lançado pela Livingoodies e inspirado em Le Corbusier. O novo sofá já existe em diversos tamanhos, para acomodar confortavelmente cães de tamanhos diferentes, e em pele imitada, pele de várias cores, pele de vaca, zebra e leopardo. O modelo mais barato custa a módica quantia de €350.
O que me dizem?

Apartir daqui viver uma vida de cão vai certamente adquirir um significado completamente diferente...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Rótulos e etiquetas
”Um egoísta é uma pessoa pouco simpática que se interessa mais por si própria do que por mim” Ambrose Bierce (1842-1914) jornalista e autor norte-americano

Já repararam como é fácil generalizar, fazer comentários de valor global e duradouro? Quantas as etiquetas com que nos rotulamos nós próprios, aos outros e a certos eventos? Este artista é um sucesso; aquele político é um corrupto e o outro realizador é um fracasso. Porque é que és sempre tão negativo? Conheço uma funcionária pública que é extremamente calona e incompetente, nunca faz nada como deve de ser. Aquele tipo é uma nulidade, a todos os níveis. O Luis Figo tem o melhor par de pernas do mundo (já se fosse o Cristiano Ronaldo não seria uma generalização :-D). Este é o pior restaurante da cidade, possivelmente do país. Tenho bilhetes para um concerto com a melhor banda du mundo. Sou sempre eu a ter de sacrificar-me. És uma egoísta, só pensas em ti própria!
Percebem o que estou a tentar dizer?

quarta-feira, outubro 18, 2006

Sondagens – parte 2
Há dias vinha a rir sozinha no metro. A razão foi uma pequena e absurda notícia no jornal, que dizia que 61% dos egípcios não sabem o que são sondagens. E que esta percentagem foi constatada numa sondagem governamental recente levada a cabo pela agência oficial de sondagens do governo egípcio; ou seja 61% dos inquiridos não faziam ideia de que tipo de estudo era aquele em que estavam a participar. E ao mesmo tempo constatou-se que somente 10% dos inquiridos tinham participado numa sondagem anteriormente e que 49% desejavam expressar a sua opinião numa sondagem sobre o desemprego que aparantemente é um grande problema na sociedade egípcia. Será possível que 1) em 2006 realmente ainda haja tanta gente sem ter conhecimento do conceito de sondagem, quando se fazem sondagens praticamente sobre tudo e têm tanta influência na criação de opiniões e decisões a todos os níveis? 2) Estamos a falar numa civilização que na antiguidade era uma das civilizações mais desenvolvidas do mundo de outrora? E 3) como será possível o trabalho de uma agência inteira passar despercebido em relação a bem mais e metade de uma população?
Se não tivesse vindo no jornal, com a agência Ritzau como fonte, até pensava que era mentira.

terça-feira, outubro 17, 2006


Pensamentos ao volante
Segundo um estudo efectuado por uma companhia de seguros britânica, os condutores pensam em tudo e mais alguma coisa quando vão ao volante dos seus veículos. Segundo o mesmo estudo 20% dos condutores pensam na condução em si menos de 75% do tempo que vão a conduzir. Durante o resto do tempo pensam em trabalho, na família e em sexo.
Então e na lista das compras e no que fazer para o jantar? E no que há para fazer depois do jantar (arrumar a cozinha, lavagem de roupa, etc)? E tentar relembrar como acabou o episódio da semana passada da série televisiva favorita? E se é nesta semana ou na próxima que uma amiga retorna de férias prolongadas no estrangeiro? Tenho de me lembrar de passar pela biblioteca antes de encerrar e será hoje que o faz mais tarde, ou foi ontem? E de marcar uma ida ao cabeleireiro. E de telefonar à companhia de electricidade, que se enganou na conta que mandou.
E de que tenho de me lembrar de escrever isto no blog.

segunda-feira, outubro 16, 2006

@
Quem tem filhos de uma certa idade conhece bem a curiosidade semântica que se origina frequentemente e aparentemente a propósito de nada. “Porque é que uma girafa se chama girafa?” ou “porque é que se diz a ou b ou c e não d?” Se bem que já adulta (discutível, concordo, mas não me contrariem!...), não perdi esta curiosidade em relação às palavras e porque se chamam o que se chamam, e porque se chamam algo diferente noutras línguas.
Um exemplo é o sinal gráfico @, usado nos endereços de correio electrónico para separar o nome do utilizador do endereço propriamente dito - por exemplo fulano.de.tal@google.com - significando usuário fulano.de.tal no domínio google.com; ou beltrano@hotmail.com - significando usuário beltrano no domínio hotmail.com, que em português se veio a intitular de arroba (porquê arroba, se uma arroba até vem do árabe ar-ruba'a, que significa «um quarto; a quarta parte» e é uma unidade de medida de peso de 32 arráteis ou um quarto de quintal, arredondada actualmente para 15 quilogramas?)
Noutros países o mesmo símbolo parece ter adquirido 117 nomes diferentes, muitos deles bem mais imaginativos e inpirados no mundo animal. Por exemplo na Dinamarca e na Suécia chama-se snabel-a, o equivalente a “a de tromba”. Em finlandês é kissanhäntä (”cauda de gato”) ou miukumauku (“símbolo de miau”). E em grego é to pap’aki’ (“patinho”). Querem ouvir mais? Em afrikaans é aapstert ("cauda de macaco") – e quase o mesmo em holandês, apenstaartje ("pequena cauda de macaco”). Em alemão é Klammeraffe ("macaco-aranha"). Os polacos também se deixaram inspirar pelos primatas, pelo menos em polaco corrente małpa ("macaco") ou małpka ("macaquinho"). Em checo é zavináč que é um tipo de arenque enrolado. Em coreano é golbaeng-i a variação em dialecto de daseulgi que é um caracol de água doce sem tentáculos. Mantendo a ideia do caracol, em francês é escargot e em italiano chiocciola. Em mandarim é xiao laoshu (ratinho) ou laoshu hao ("símbolo de rato"). Em russo é sobaka (собака) ("cão"). E em úngaro: kukac ("minhoca").
(fonte: Wikipedia)
Engraçado, não é?

domingo, outubro 15, 2006


Magia!
Com tanta gente e cada vez mais a conhecer-se através de sites na Internet, esse mundo virtual de utentes anónimos e descomprometidos, imagino que frequentemente dará lugar a surpresas e uma vez ou outra alguém saia desapontado.
Imaginem por exemplo se o “homem alto, musculado e sexy, em óptima forma física, romântico, com incrível sentido de humor, salário e posição acima da média, moradia própria e carro topo de gama, com interesse por desporto, boa comida e bons vinhos e viagens ao estrangeiro” no primeiro encontro se revelar ser um lingrinhas enfezado com aspirações atléticas não realizadas, amante da música do Júlio Iglésias, fã dos “Malucos do Riso”, camionista, com aluguer num quartinho e que passa os fins-de-semana colado ao ecrã a ver o Eurosport, de preferência com um prato de esparguete com almôndegas e um copo de tintol feito a martelo e que passa as férias em Torremolinos e na Costa da Caparica?
Ou se a “loura, ex-modelo com bom gosto e interesse em desafios intelectuais e literatura moderna” realmente for alta e vistosa com o seu cabelo descolorado, unhas artificiais e uma leitora ávida da “Maria”?
Se tudo já de si é relativo, por conseguinte mais difícil será manter a objectividade e fidelidade à verdade num mundo tão cego, flexível e aberto a projecções como a Internet.

sábado, outubro 14, 2006

Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje
Não sei se já repararam na facilidade com que se adiam aquelas coisas menos agradáveis ou interessantes até não poderem mais continuar a ser adiadas. Para uns é a consulta de dentista. Para outros o olhar detalhadamente para o orçamento privado para verificar se é saudável e equilibrado. Ou a dieta que andamos a ameaçar há meses.
Para mim à categoria de coisas adiáveis já legendária pertencem actividades como coser e pregar botões (que detesto), fazer bolos e/ou pão (o que gosto imenso de fazer e como tal não compreendo minimamente a justificação para serem adiadas), aspirar o carro (é aborrecido) e fazer telefonemas diversos (o que possivelmente detesto ainda mais do que coser e pregar botões).
Estou aberta a sugestões para modificar este comportamento pouco razoável e racional e nada produtivo.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Primeiras impressões
Ultimamente tem-me fascinado o fenómeno das primeiras impressões; a maneira como numa questão de segundos se forma um juízo de outra pessoa que jamais tinhamos visto, baseado em ideias pré-concebidas, experiências anteriores e pequenos detalhes como trejeitos, a voz ou certa maneira idiosincrática de pronunciar certas palavras, que instintiva e automaticamente fazem lembrar alguém conhecido – uma amiga simpática e divertida, o perseguidor sistematicamente sádico dos tempos de escola, uma colega detestada ou uma personagem de um filme ou de um desenho animado. Simpatias e antipatias, confianças, desconfianças e indiferenças instantâneas e basicamente infundadas.
Nestes últimos quatro dias tenho estado num curso de formação com o Dr. P. Erdberg, PhD, um perfeito Donald Sutherland hilariante e bem-disposto no papel que desempenhava no M*A*S*H.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Jingle bells, jingle bells…
Para mim o Natal é uma época mágica, fantástica. Adoro as decorações, as luzes das velas, as prendas, as bebidas quentes em boa companhia, o bolo rei. Mas todos os anos acabo por me chatear com o cada vez maior comercialismo ligado a ele. A mais de dois meses do Natal já há um ou outro anúncio fazendo alusão à quadra natalícia e daqui a nada haverá uma explosão de publicidade e vai ser cada vez mais difícil encontrar espaços urbanos sem renas e Pais Natais de várias configurações e tamanhos (entretanto talvez não me devesse queixar, pois que se vivesse em Inglaterra já há muito que me andava a exaltar, uma vez que, segundo uns amigos que lá temos, os primeiros catálogos apareceram no correio já em Agosto!...)
É pena ter-se tornado assim esta festa cada vez menos dedicada à família, ao convívio e às tradições e cada vez mais dedicada aos cifrões (ou lá o que chama o símbolo do Euro) investidos em comodidades muitas vezes supérfluas, fúteis, frívolas, desnecessárias e em que a alegria dá lugar ao stress, grandes expectativas e desapontamentos ainda maiores. Um mundo de pernas para o ar.

quarta-feira, outubro 11, 2006


Boa vizinhança
Nós temos a felicidade de termos bons vizinhos: simpáticos, prestáveis, hospitaleiros, interessados mas sem o péssimo hábito da “cusquice”. Já houve diversos convívios giros na casa dum e doutro. Durante as férias há sempre quem regue as plantas, recolha o correio e deite um olho à casa de vez em quando por motivos de segurança. Raramente põem a música alta e quando dão uma festa em que poderá gerar-se mais barulho, avisam previamente.
Há vizinhanças menos felizes, onde se criam conflitos desagradáveis ou mero desinteresse e indiferença e para essas foi recentemente criada uma ferramenta essencial. Num portal lançado na internet dão-se propostas concretas e práticas de como melhorar o clima entre vizinhos, com ponto de partida num teste simples. Algumas das questões abordadas são as seguintes: “A quantos vizinhos emprestarias 100 €?” “Achas que os teus vizinhos em geral são prestáveis?” “O que achas de como se recebe um novo morador no prédio?” “Com que frequência te prestas a ajudar os teus vizinhos escutando os problemas pessoais que têm?” “ É possível pedires emprestado café ou açucar a um ou vários vizinhos?” “Se já não vês um vizinho idoso há vários dias, tentas descobrir se se passa algo?”
Depois de feito o teste, mantenho o que disse inicialmente: temos a felicidade de termos bons vizinhos. É uma benção, um bónus com que nem sempre se pode contar.

terça-feira, outubro 10, 2006

Greves, demonstrações e piquetes
Às vezes fico admirada com o que dizem as sondagens e não posso deixar de me sentir não representativa por 1) nunca ser sondada em nada e 2) normalmente estar em oposição à tendência encontrada por sondagens diversas.
Na semana passada houve tumultos relacionados com uma greve generalizada de educadores de infância – protestavam pela falta de condições, isto no país do mundo em que mais dinheiro se investe precisamente nesse campo (li isto numa sondagem...). Vários jardins de infância fecharam em protesto, para consternação de muitos pais trabalhadores sem outras possibilidades de onde deixar os filhos assim à última da hora. Uns fecharam um só dia, outros durante vários dias, com a ajuda de pais que “invadiram” os locais, bloqueando o acesso aos ditos jardins de infância (e já agora um àparte, uma opinião muito privada: que tem tempo de ficar a bloquear a jardim de infância do/s filho/s durante vários dias, teria certamente tempo de cuidar do/s mesmo/s, não pesando na bolsa de estado, não?!...).
Dois dias mais tarde saiu uma sondagem afirmando que 75% da população estava disposta a pagar ainda mais impostos – neste país já de si com a mais elevada carga fiscal do mundo – para solucionar esta situação.
O estranho é que mais uma vez ninguém me sondou, e por acaso nem a ninguém meu conhecido. Que eu não o seja vá lá, mas não conhecerei mesmo ninguém representativo?

segunda-feira, outubro 09, 2006


“Não há nada permanente, senão a mudança” (provérbio grego)
A vida dá voltas e reviravoltas – nada fica como era e raramente como se imaginara. Os exemplos são inúmeros.
Quando eu andava na escola primária tinha grande afeição à minha professora, a d. Lucinda, e sonhava por isso ser professora como ela. Felizmente passou-me. Se hoje me visse à frente de uma classe de putos irrequietos e indisciplinados fugiria de certeza a sete pés. Sempre gostei de andar na escola e vinha da primária habituada a ter aulas de manhã e de tarde só som uma pausa para o almoço, o que para meu desgosto inicial acabou no ciclo (lembro-me até de expressar essa opinião na minha primeira composição de português). Com o passar dos anos tornou-se talvez menos divertido ou mais árduo ir à escola; pelo menos mudei de opinião e durante o liceu não havia nada mais bem recebido do que ser anulada uma aula por falta de comparência do professor. Comecei por me interessar por línguas modernas, especialmente o inglês que desde o primeiro dia tive facilidade em aprender. Não perdi o interesse, mas entretanto vim por vários caminhos inesperados a enveredar por psicologia, uma área em que me sinto como um peixe dentro de água.
Até aos dezassete anos levei a vida restrita que me foi imposta pelos meus pais, raramente saía para ir estar com os meus amigos. No ano em que fiz dezoito, com o liceu feito, mudei-me para a Noruega sózinha, onde me amanhei perfeitamente. Um ano mais tarde dei o pulo para a Dinamarca, onde fiquei e criei raízes, o que não era absolutamente o meu plano inicial.
Que mais voltas e surpresas terá a vida reservadas para mim?

domingo, outubro 08, 2006

Atletas a sério
Atletas a sério fazem exibições de alto nível e marcam inevitavelmente dois golaços por partida, como foi o caso do Cristiano ontem na partida de apuramento contra o Azerbaijão :-)
A selecção lusa entrou no habitual "4-3-3", com Miguel, Ricardo Carvalho, Ricardo Rocha e Nuno Valente à frente de Ricardo, um meio-campo com Costinha, Maniche e Deco e dois extremos, Cristiano Ronaldo e Simão, no apoio ao ponta-de-lança Nuno Gomes. A selecção das quinas dominou e venceu por 3 bolas a zero.
Viva o Cristiano Ronaldo! Força Portugal - um passo mais perto do Euro 2008!

Cientificamente provado
É sempre engraçado quando as coisas de que tinhamos uma impressão forte são comprovadas por meios científicos. Quem não se apercebeu por exemplo de que os homens que fazem musculação exageradamente intensa e se assemelham ao He-man ou ao Arnold Schwarznegger não aparentam ter grande inteligência? Ora isto já não é apenas um preconceito infundado, mas foi recentemente comprovado por uma equipa de cientistas dinamarqueses. Atletas (chamemos-lhes isto en nome do consenso e da cordialidade) que tomem esteroides vêm as células cerebrais encolher à medida que a massa muscular vai aumentando cada vez mais em volume. Ou seja: estupidifica tomar esteroides. Isto porque os esteroides estimulam a produção de testosterona, que em doses cavalares dá cabo dos neurónios, ao mesmo tempo aumentando o grau de agressividade do indivíduo, pelo menos em condições de laboratório.
Ora aí está uma boa explicação para a escassez de galardoados com o prémio Nobel de estatura física impressionante!...