sábado, setembro 30, 2006


Petiscos e especialidades
Sou grande amiga de petiscar: não há nada como um naco de pão de mafra bem cozido e estaladiço com queijo fresco e manjerona acabada de apanhar, ou com fatias fininhas de choriço, ou queijo da ilha, ou salmão fumado e a acompanhar um copo de vinho tinto ligeiramente refrescado, rosé bem fresco ou uma cerveja gelada. Figos frescos. Um pratinho de azeitonas, de preferência das verdes grandes. Uma mão cheia de cajus. Uma dose de gambas. Estes são os meus petiscos predilectos (e com isto da dieta já estou a halucinar só de os imaginar...)
No entanto há muitos petiscos que considero nojentos e impróprios para consumo: torresmos, couratos, túbaros, cérebros e olhos de diversos animais, e noutras partes do mundo até larvas, serpentes e outros répteis e insectos passam por petiscos. Por exemplo gafanhotos. No Vietname os gafanhotos são de momento a especialidade mais procurada pelas pessoas abastadas quando vão a um bar tomar uma imperial. Um criador de gafanhotos vietnamês, Le Thanh Tung, disse à agência Reuters que os gafanhotos têm um gosto bastante especial, difícil de comparar com outros tipos de alimentos. Quem diria??!... (pergunta num tom muitíssimo sarcástico)
Chamem-se antiquada, mas eu fico-me pelo naco de pão estaladiço com queijo fresco e manjerona acabada de apanhar.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Moradias de sonho
Quando eu era miúda sonhava com um dia vir a morar num sótão de paredes em bico. Pouco prático de decorar e mobilar, mas imensamente romântico. O sonho não se realizou, ou apenas parcialmente: o meu consultório é num sótão, e adoro ouvir o som da chuva a bater na janela e no telhado, ver o céu mais de perto, a passarada (um ou outro pombo a passarinhar de um lado para o outro com vontade de entrar, bandos de pardais, andorinhas acrobatas), e passar horas e horas naquela atmosfera quase cavernosa em que a luminosidade natural é escassa.
Entretanto já vi outros tipos de moradias alternativas também bastante interessantes. Há por exemplo quem viva em carruagens antigas de comboio ou num barco, atracado numa doca de um canal mas ainda flutuante, com plantas e cordas da roupa no convés e aquele ondular discreto como parte integral do dia-a-dia.
E quem realmente gosta do mar como eu devia experimentar viver num farol, o que também já se vai tornando menos invulgar, pelo menos como residência de tempos livres. Imaginem poder ver aquela imensidão de mar, os navios, as gaivotas de perto, não ter vizinhos para aturar ou ter em consideração, estar à janela no meio do nada, sentir-se à deriva sem o estar.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Escolhas e prioridades
Anteontem depois do trabalho fomos beber uns copos com uns colegas (actualmente meus, mas também antigos colegas do meu marido de alguns anos atrás). O plano inicial era ficarmos por aí, sendo dia de semana e tendo eu várias coisas para fazer em casa – por exemplo lavar a louça de vários dias (“compra uma máquina de lavar louça!”, dirão talvez; já falámos nisso várias vezes, mas eu até gosto de lavar a louça, perceba quem pode...). Mas estávamos a conversar tão bem, que as horas foram passando. A certa altura a fome começou a apertar e a escolha não foi difícil: ficarmos na cidade para jantar, mas preferivelmente num sítio mais calmo. A poucos passos de distância encontrámos um pequeno restaurante italiano muito simpático, o Da Claudio. Foi ali que passámos mais algumas horas em companhia animada a discutir de tudo um pouco, desde trabalho até à situação mundial, que qualquer um de nós ali presentes resolveríamos bem melhor se se pusesse a oportunidade, passando pela reorganização das quatro estações do ano neste país e outras soluções alternativas para o facto de o Outono estar cada vez mais próximo e daqui a nada estar pronto a passar a estafeta ao longo Inverno. A comida estava deliciosa – uma entrada de figos com paio em tosta, bife de vitela com vegetais e molho de gorgonzola e para a sobremesa Tiramitsu – e o tinto Ripasso foi bem escolhido, e acompanhado de uma breve explicação sobre a origem do vinho e do nome pelo empregado de mesa de Firenze, bem disposto, galhofeiro e cantor de baladas da pátria que várias vezes o ouvimos entoar mais ou menos discretamente à medida que nos servia.
Excusado será dizer que quando chegámos a casa já não me apetecia começar a arrumar a cozinha – adiei para ontem. Mas valeu a pena.
Não pude deixar de pensar que ser-se adulto apresenta um rol imenso de escolhas raramente pré-definidas – adultos como os meus pais teriam provavelmente escolhido as tarefas de casa, enquanto que eu, apesar de achar essencial manter a casa limpa e arrumada, com mais facilidade teria a tendência de me deixar levar pela vontade do momento e dar a volta às prioridades. Uma vez não são vezes e só se vive uma vez...

quarta-feira, setembro 27, 2006

Num futuro próximo
Quando eu era miúda todos os Domingos dava aquela série de ficção científica, “Espaço 1999”, em que um grupo de terrestres habitava numa base lunar. E nesse futuro então distante tudo parecia possível, como viajar de um sítio para o outro numa questão de segundos. 1999 passou, mudámos de milénio, mas nem por isso se alteraram os estilos de vida tão radicalmente...
... pensava eu até ouvir falar do frigorífico do futuro, que já está à experiência em algumas casas. Com o frigorífico do futuro evitam-se aparentemente as listas de compras e aqueles momentos de irritação de se chegar a casa das compras só para constatar que nos esquecemos de comprar ovos. Com a nova tecnologia RFID (Radio Frequency IDentification) basta mandar um sms do supermercado ao frigorífico para perguntar o que lá tem nas prateleiras: um litro de leite e um pacote de queijo ralado para pizzas; e o que falta para a receita de escolha própria. As compras feitas, os produtos são registados antes de serem arrumados devidamente no frigorífico e novamente quando são retirados para consumo. E um programa de computador adjacente informa de onde vêm os produtos, que possibilidades culinárias proporcionam e quais são as datas de validade. O mesmo programa ajuda a planear o cardápio para uma semana e o que comprar.
Ainda não vivemos na lua nem noutro planeta, mas quem diria no século passado que um dia se tornaria possível comunicar e trocar impressões culinárias com os electrodomésticos?

terça-feira, setembro 26, 2006

Onde encontrar o amor? (quando os opostos nem sempre se atraem)
Às vezes fico fascinada com o que mostram as estatísticas. Uma que me despertou a atenção recentemente falava do amor: como encontrá-lo e o que o faz perdurar. Sabiam por exemplo que casais que se conheceram no lugar de trabalho correm 14% menos o risco de acabar em divórcio? A explicação parece simples: num posto de trabalho relativamente grande, com muitos funcionários, em que há muito por onde escolher em termos de pessoas do sexo oposto, a oferta é ampla e uma pessoa pode ser “esquisita” até encontrar o/a parceiro/a ideal. É também um lugar onde as pessoas passam bastante tempo todos os dias e se vêm a conhecer bastante bem, e a probabilidade de conhecer alguém com temperamento e interesses em comum é bastante elevada.
E como compatibilizar este dado estatístico com os demais para rentabilizar estatisticamente uma relação amorosa? Hmmm...
... escolhe um namorado com a mais longa educação e o mais alto salário possíveis, e tem tu própria uma educação longa e um bom salário.
Conhece esse namorado num posto de trabalho em que haja uma escolha tão ampla e variada de exemplares do sexo oposto quanto possível.
Muda então de emprego assim que tenham começado a namorar, para vires a trabalhar com pessoas do teu próprio sexo. E faz com que o teu namorado faça o mesmo. Pessoas que trabalham somente com pessoas do sexo oposto correm 40% mais de risco de se vir a divorciar do que quem trabalha somente com pessoas do seu próprio sexo (ou seja: limitam-se as tentações).
Sai da cidade e muda-te para o campo, onde também há menos tentações.
E evita ficar doente ou ter um parceiro que fique muito tempo de baixa (pois doenças trazem stress e instabilidade a uma relação).
Uma receita fácil, não é?
All you need is love...

segunda-feira, setembro 25, 2006

As mães deste mundo
Há mães e há mães. Mães mais ou menos carinhosas, cuidadosas, conscienciosas, atenciosas e mães aparentemente sem nenhuma destas qualidades. Mães calmas e pacientes e mães fáceis de se vexar e irritar. Mães que pensam na saúde dos filhos e as outras que pensam em não sei o quê. Sam Walker pertence talvez à última categoria. Sam é mãe de um rapaz de onze anos e é citada por dizer que “isto é tudo a culpa do Jamie Oliver (ed.: cozinheiro inglês de que a autora deste blog é fã). Não gosto nada dele nem com molho de azeitonas, nem do que representa. Ele obriga os nossos filhos a tornarem-se mais esquisitos em relação à comida”. Isto porque o Jamie Oliver tem tentado eliminar a junk food das escolas inglesas.
Esta questão põe outras questões, por exemplo: 1) Muitas crianças são de si esquisitas em relação à comida. 2) A comida saudável não é necessariamente mais cara do que a comida tipo McDonald’s. 3) Que mãe é que prefere que o filho coma porcaria a comida saudável e gostosa?
Jamie, não tenho filhos, mas estou contigo!

domingo, setembro 24, 2006

Notícias insólitas
Às vezes lêm-se notícias nos jornais que mais parecem anedotas, algumas até de bastante mau gosto, e a que somente a fonte concede uma certa credibilidade. As conceituadas agências Ritzau e Reuters deram-se por exemplo como fontes oficiais para a seguinte notícia insólita:
Condutor cego fez fórmula 1 através de Oldbury
Um homem invisual no Reino Unido confessou ter conduzido a alta velocidade (ok, 56 quilómetros por hora!...) através da cidade de Oldbury. O homem conseguiu conduzir somente com a ajuda de instruções do seu passageiro. Para além de ser cego, o automobilista em questão também é parcialmente surdo, tem tremores nas pernas e somente dois dedos na mão direita.”
E esta, hein? Já não ter sido totalmente surdo (o que impossibilitaria ter ouvido as instruções de condução do amigo) ou maneta de ambas as mãos, ou paralítico foi uma grande sorte!... E que deficiência teria o amigo para alinhar num estratagema tão sórdido e potencialmente perigoso para a saúde?
Desculpem se ofendi as sensibilidades de alguém, não era a minha intenção: não gosto nada que se faça troça das pessoas deficientes ou das deficiências em si, nem tenho o hábito de o fazer, mas este cenário foi areia demais para a minha camioneta.

sábado, setembro 23, 2006

Um Sábado perfeito
Adoro as Sextas-feiras por ser princípio de fim-de-semana e ter ainda vários dias para gozar. Saio do trabalho à uma da tarde, mas partir aí do meio-dia começa a manifestar-se aquele sentimento semelhante ao de início de férias – de liberdade total e interminável. Sexta-feira faço sempre um jantarinho especial, quer sejamos só os dois, quer tenhamos a visita de amigos como foi o caso ontem. A única desvantagem de Sexta-feira é sermos alcançados pelo cansaço acumulado durante uma semana inteira.
É por isso que também gosto muito dos Sábados. É fácil ter um Sábado perfeito: acordar tarde e sem o som agudo e desagradável do despertador, ficar deitada um pouco mais a preguiçar. Demorar mais tempo no banho do que é costume, enquanto o meu marido vai ao pão e de vez enquando também me surpreende com o bolo favorito. O pequeno-almoço costuma de consistir de pão fresco, diversos queijos e compotas, sumo de laranja (para mim com um cheirinho a morangos), fruta fresca e café. Planos para o dia fazem-se na hora: almoçar fora e alugar um filme para a noite; ou uma ida ao cinema seguida de um cafe latte. O passeio à beira-mar é obrigatório a menos que chova demais. Umas horas passadas espojada no sofá ou na varanda a ler ou a conversar, ou a responder a uma carta que já há muito merecia resposta. Dez minutos a dormitar ao sol a meio da tarde. Ouvir música alegre e dançar à maluca. Dar uma volta pela cidade depois da hora de expediente das lojas. E depois de um dia em cheio deitar-se mais tarde do que nos dias de semana, sabendo que amanhã há mais um dia livre.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Arte contemporânea
Vocês vão ficar a pensar que eu tenho uma fixação anal qualquer depois do post sobre a reciclagem de há dias e agora este. Se tenho, se não, não vou discuti-lo agora, porque nem vem à questão. Mas este tive mesmo de escrever. Li-o num jornal reputável, logo há uma certa probabilidade de que até seja um caso verídico.
Não sei se já repararam que há certas vertentes, por vezes apelidadas de subversivas, da arte contemporânea que, mais do que formas de expressão, parecem ter como o seu intuito primário a provocação, o ultraje, o choque da sociedade mediana. Há uns anos atrás foi a exposição itinerante de porcos mortos, em montras envidraçadas, e já em estado de semiputrificação ou decomposição. Mais recentemente foi a dos peixinhos de aquário em centrifugadoras, que deixava ao público a questão moral de carregar ou não no botão e mandar os peixinhos desta para melhor. Agora parece que o artista satírico Daniel Edwards, conhecido pela escultura do primeiro parto da Britney Spears, talvez como comentário à global adoração e culto aos ídolos do cinema e da música pop, resolveu fazer uma escultura em bronze do primeiro excremento da Suri Cruise, a bebé recém-nascida de Tom Cruise e Katie Holmes que os papparazzis nem sequer tiveram ainda a sorte de fotografar. Este cocó de luxo está supostamente exposto numa galeria em Nova Iorque e irá supostamente a leilão no eBay.com ainda este mês. A foto neste post foi o resultado da minha subsequente pesquisa sobre o assunto e diz retratar a escultura em questão. Confesso que me surpreendeu, não imaginava o primeiro produto gastro-intestinal de um recém-nascido tão bem elaborado, mas isso já é outro assunto...
Se esta obra tiver o sucesso esperado, já viram as ilimitadas possibilidades deste tipo de “arte”? Primeiro esculturas do dos VIPS todos e dos seus filhos, mais tarde do do homem e mulher comuns, do de diversos profissionais, do da classe média, cada tipo com o seu género de protesto socio-económico diferente!... Não haverá é bronze que chegue para imitar tanta m....

quinta-feira, setembro 21, 2006


Vida de canguru
Normalmente quando penso na Austrália penso na extensão e diversidade de paisagens e climas, no estilo de vida descansado, “laid back”, do povo australiano, na sua hospitalidade e bom humor legendários e nos animais engraçados e amorosos que não existem em mais parte nenhuma do mundo (os bichos horrorosos e/ou venenosos reprimo da consciência): por exemplo os ursos coalas e os cangurus, mamíferos marsupiais símbolo do país.
Diz-se que antes da colonização europeia na Austrália nos séculos passados, os povos e animais indígenas australianos viviam em paz e harmonia. Com a vinda dos europeus, os aborígenes foram subjugados e oprimidos e a fauna e flora têm ido pelo mesmo caminho. Há por exemplo 57 milhões de cangurus selvagens em toda a Austrália, o que aparenta um número elevado, mas certamente tem vindo a declinar como toda a outra vida selvagem às mãos de impiedosos caçadores. Não contentes ainda com isso as autoridades australianas planeiam introduzir planeamento familiar via anticoncepção na comunidade de cangurus selvagens na forma da pílula. Não faço segredo de que com este e outros tipos de mentalidade tipicamente humana por vezes preferia ver mais cangurus e menos seres humanos; mas o que mais me espanta por agora é talvez a logística descomunal que imagino estar envolvida neste plano governamental. Como pensarão levar a cabo um plano de anticoncepção envolvendo tantos milhões de indivíduos que vivem à solta, alguns certamente até em áreas inóspitas e inacessíveis e com os quais é impossível raciocinar ou debater? Como irão administrar a pílula mensalmente?
E com que direito, já agora?!...

quarta-feira, setembro 20, 2006

Date detrás das grades
Diz-se que o amor é cego! E que no amor e na guerra não há regras. É por exemplo cada vez mais frequente encontrar-se o/a cara metade em chatrooms na internet. E também os dating sites se têm tornado cobiçados durante os últimos anos. E como a Dinamarca é um país avançado em tudo, que nunca se deixa ficar atrás de ninguém, foi recentemente criado um dating site para os reclusos. Foi criado por um ex-recluso já liberto, que foi deixado pela namorada enquanto cumpria pena de prisão. Entrevistado, o autor do site afirmou, que “há muita gente que não se importa de ter um namorado a cumprir pena de prisão. E talvez seja até bastante prático e vantajoso ter a liberdade que proporciona não ter o namorado ali ao lado permanentemente.” É realmente uma maneira de conseguir alguma vida privada durante uns tempos, se bem que pouco tradicional. Não cesso de me espantar com as milhentas maneiras diferentes de como vivem as outras pessoas.
Este dating site também está aberto a utentes sem cadastro em busca de amor.
O amor é cego. E às vezes pelos vistos também é surdo, mudo, marreco e muito ingénuo... ou quê?

terça-feira, setembro 19, 2006

Sentimentos puros
Conhecem a impressão de um sentimento na sua mais pura forma, não diluido por convenções e regras? Alegria extrema que eleva e expande a realidade, frustração completa ou tristeza tão profunda que até faz doer o corpo inteiro? Creio que nascemos com esta capacidade de sentir ilimitadamente, brutalmente, mas à medida que crescemos e somos educados, os nossos sentimentos selvagens são domados, conformados para que nos tornemos seres sociais e sociáveis, e com os anos é raro os sentimentos atingirem o topo da escala.
Ontem porém sucumbi à raiva pura: os músculos estavam todos tensos, o maxilar forçadamente cerrado, as lágrimas quase a brotar, os olhos por pouco não emitiam faíscas. Senti-me como uma panela de pressão prestes a explodir. Aconteceu a caminho do emprego. Um trajecto que normalmente leva 25 minutos demorou mais de uma hora devido a obras públicas de longa duração e lentos resultados, que condicionaram o número de faixas abertas à circulação até haver apenas uma. O trânsito movia-se minimamente. Respirei fundo e contei até 10 – cem vezes! As frases que me saiam por entre dentes dirigidas aos ouvidos surdos dos demais condutores, que não me estavam a ouvir por ir de janela fechada, eram cada vez mais coléricas e agudas: “Vá lá, pá, avança!” “Vá lá, atraso de vida!” “ VÁ LÁ; grande MONGO, está verde para nós!” “Pôrra, pá, não tenho o dia todo, ó MELGA!” O volante foi o único a receber a violência escalada da minha fúria louca, apliquei-lhe um par de murros. Só faltou buzinar, o que não serviria qualquer função numa situação daquelas, senão talvez dar largas à minha frustração. Contive-me e não buzinei.
Já não me julgava capaz destes sentimentos fortes, intensos, indomáveis, desta agressividade sem rédeas. Afinal bastou uma hora ao volante numa situação de trânsito absolutamente parado. Nem sequer a música do meu programa matinal favorito de rádio ajudou nestas circunstâncias.
Pela minha rica saúde, hoje terei de encontrar um trajecto alternativo para evitar emoções demais para uma manhã só.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Nada se perde, tudo se recicla…
Ainda há dias falava das excepções à crescente conciência ambiental dos nossos dias, por exemplo no que dizia respeito ao abandono dos jornais na via pública. Felizmente esse caso – como as omnipresentes beatas de cigarros – já vão pertencendo à bendita excepção que confirma a regra. É impressionante por exemplo verificar os avanços constantes no campo da reciclagem: para além de toneladas de papel reciclam-se cartão, vidros, plásticos, latas, pilhas, madeiras, peças de automóveis, artigos de vestuário e coisas do género. E não sabia eu da missa metade; li no princípio da semana que a firma galesa Creative Paper Wales foi recentemente galardoada pela sua creatividade na reciclagem da matéria mais acessível num país de criação ovina por excelência: conseguiram nomeadamente fazer papel, cartões e artigos para prendas de excrementos de ovelha! (ouviram bem: excrementos e ovelha!...) E esperam conseguir produzir duas toneladas deste novo papel ambientalmente correcto anualmente.
Pelos vistos somente a fantasia põe limites à sede de reciclagem – e neste caso quem me dera que pusesse (!...), pois a minha vontade de receber cartões de Boas Festas com o cheiro característico a ovelha é menos do que não existente.
Que mais irão inventar?... Por favor não respondam, eu não quero nem pensar...

domingo, setembro 17, 2006


... com o palho no comboio ao circo...
Um dos sinais de que o Verão está em decrescente são as turnés dos circos de cidade em cidade. O circo Benneweis, provavelmente o maior circo da Dinamarca e da Escandinávia, está acampado num terreiro por onde passo todos os dias a caminho do trabalho. Ver as roulottes, os cartazes coloridos com fotos de animais ou palhaços afixados nos postes, a tenda enorme no centro do acampamento, traz memórias. Desde miúda que sempre detestei o circo. Os superlativos e sotaques exagerados: “Sêêêêênhores e sêêêêênhoas, o mêêêlhor circô do mundo apresentá só para vóish os malabaristash máish engênhososh, os trápezistash máish audaciôsosh, os pálhaçôsh máish divêrtidosh, os elefantêsh máish bém amestrádosh do mundô!...” Sempre me irritaram os cães vestidos à homem a empurrar carrinhos de bonecas com as patas dianteiras, os leões sem ferocidade a saltar através de arcos em chamas, os palhaços com nomes de funções fisiológicas – Atchim e Espirro – ou de comida – Omelete, Batatinha, Esparguete e Cebolinha – e maquilhagem carregada; o rico sempre com razão e lições de moral, e o pobre a quem tudo corre mal e acaba sempre por levar com uma tarte na cara. As mulheres com maiôs de lantejoulas apertados demais.
Por azar os meus pais todos os anos pelo Natal me levavam ao circo para a festa de Natal do emprego. E o único consolo, depois de uma sessão insuportavelmente longa e penosa de malabarismos e palhaçadas, eram os brinquedos que recebíamos.

Já não vou ao circo há anos e anos. E este ano vou voltar a abdicar.

sábado, setembro 16, 2006

As vantagens de ter um telemóvel da idade da pedra
Era uma vez num passado bastante longínquo um mundo em que virus eram seres microscópicos que atacavam outros seres vivos. Muitos anos depois passaram a atacar computadores via programas partilhados, emails contaminados e a internet em geral. A última novidade virológica é que até telemóveis podem ser atacados e apanhar uma virose. O fenómeno chama-se smishing e acontece através do envio de um sms de um computador para um ou vários telemóveis. Os números de telemóvel criam então o programa virulento eles próprios, não me perguntem como... A mensagem de sms tenta fazer com que a vítima faça o download de um programa antivirus gratuito para o telefone, mas na realidade o que se downloada (não sei se é esse o termo aportuguesado) é um virus. Possíveis consequências? Ter de pagar um balúdio pelo sms, ou até mesmo chantagem, afirmam os peritos. E a epidemia de virus telefónicos pode alastrar-se mais do que as epidemias que atacam os computadores pelo simples facto de haver mais telemóveis em circulação.
Ao inteirar-me deste perigo da era supratecnológica para a nossa civilização, este ébola dos telemóveis, é que me apercebi de quão sortuda sou por ter um telemóvel velhote, a preto e branco, com poucas funções, sem máquina fotográfica de x megapixels, bússola, lanterna, Java, Bluetooth, infravermelho, MP3, WMA, AAC, vídeo MPEG4, MMS ou toques polifónicos. Que eu saiba nem sequer tem possibilidade de fazer downloads ou escrever e receber emails e comunicar com computadores. O meu telemóvel apesar de idoso deve ter afinal uma saúde de ferro.

sexta-feira, setembro 15, 2006


Dias de Verão
É engraçado como às vezes o universo parece ter prazer em contrariar - e às vezes ainda bem. Ainda há dias me queixava de que o Verão tinha acabado e já era Outono prematuro. E não é que de um dia para o outro o sol recomeçou a brilhar e a aquecer e temos tido dias de pleno Verão, manga curta e chinelas? Até vi uma andorinha solitária depois de dias e dias sem as ver e ouvir. Bem-vindos de volta, banhos de sol na varanda! Senti a vossa falta. Olá de novo, bebidas geladas e pernas ao léu! Já pensava que agora só para o ano. Felizmente ainda temos gelados de água no congelador e temos adiado a troca dos calções pelos agasalhos no armário, não por esperança, mais por perguiça. Onde é que eu pus os óculos escuros?
E porque caminho desapareceu a ventania já pão nosso de cada dia? O seu paradeiro ainda é o menos, desde que feche a porta à chave e lá fique reclusa durante mais algumas semanas... Se eu me queixasse mais vezes do tempo será que o universo me contrariaria mais vezes?
Bem, mas deixemo-nos de filosofar que a varanda está a chamar.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Desenlace? (um conto da China...)
Os leitores mais assíduos e atentos deste blog recordam-se certamente da história do dicionário que de tantos erros nem sequer merecia esse nome. E da carta de protesto e conternação que acabei por mandar ao seu editor em Espanha. Confesso que na altura ainda fiquei com algum cepticismo: será que verdadeiramente haveria um editor em Espanha? E nesse caso hipotético, como reagiria à missiva? Não é bom ser-se desconfiado, bem sei. Mas infelizmente as minhas piores suspeitas foram comprovadas: a carta remetida ao Leandro Lara, Editor, em Barcelona apareceu na minha caixa do correio ontem, por abrir, com os carimbos de Barcelona de 23/8 e “devuelto al remitente” e uma mensagem manuscrita dizendo “desconocido”.

Das duas uma: ou o sr. Leandro transferiu todos os fundos e a sua própria presença para a Suiça ou as Ilhas Cayman para fugir às eventuais críticas – ou ao fisco...; ou nunca houve um sr. Leandro – o editor do desditoso “dicionário” é talvez um chinês residente em Taiwan que se fez passar pelo tal Leandro editor para ganhar umas massas com o “dicionário” editado por si mesmo no quartinho das traseiras e distribuido através de um dos seus muitos compatriotas que nos últimos anos têm vindo a invadir as costas lusitanas. Outras propostas viáveis?
De qualquer das formas vou ter de decidir o destino do malfadado “dicionário”, o que certamente não será difícil. E prometo que não ouvirão nem mais uma palavra sobre ele.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Hobbies sui generis – parte 2
Há algumas semanas atrás escrevi sobre um hobby novo e, a meu ver, para o estranho. Ontem descobri outro: a caça às datas! Há pessoas cujo passatempo e missão na vida consiste em dar voltas e mais voltas aos supermercados em busca de artigos com a data de validade já ligeiramente ultrapassada. Chamam-se caçadores de datas. Percorrem e vasculham as prateleiras e arcas frigoríficas meticulosamente e sempre que encontram um dos produtos em questão, apressam-se a pô-lo no cesto das compras e levam-no grátis.
Alguns desenvolvem talento tal que são contratados pelos próprios supermercados como consultores externos para ajudar na formação dos empregados no seu método de buscas.
Há supermercados que para além dos produtos antigos encontrados também oferecem uma garrafa de vinho por grupo de artigos encontrados. Outros são menos generosos e oferecem nada, ou ofertam um saco de café ou uma caixa de chocolates. Li que um destes caçadores já afamados à pala do talento, do “faro”, digamos, tem uma garrafeira gigantesca, reabastecida mensalmente por mais de 150 garrafas de vinho.
É pena que os produtos da Gucci e do Hugo Boss não tenham data de validade... sendo assim, este é outro hobby que não cai cá no meu gosto.

terça-feira, setembro 12, 2006

Grátis e descartável?
Copenhaga, como tantas outras cidades europeias, tem sofrido nos últimos anos a praga dos jornais gratuitos. Primeiro o Destak (Urban) e o Metroxpress. E recentemente o 24 Horas (24 Timer) e o Data (Dato). Entrámos em plena guerra de jornais gratuitos. Não me interpretem mal. Eu até acho que têm bastante qualidade e interesse e para mim, que não sou muito afoita a ler jornais por normalmente serem longos, sérios e aborrecidos demais, tornaram-se uma fonte essencial de informação com as suas notícias curtas e concisas e formato convidativo, um suplemento para as notícias online. Os jornais gratuitos têm também contribuido para a camada mais jovem se manter mais a par das notícias mais centrais do país e do Mundo por serem tão acessíveis e estarem disponíveis em vários pontos de passagem do público.
Mas o que me chateia é o pós-leitura. Num país que se apelida e se gaba de ser avançado e ecologicamente consciente, é desolante todos os dias ver tantos destes jornais gratuitos caídos pelos passeios e nos transportes públicos, muitas das vezes com um caixote do lixo mesmo ao lado. Já dei milhentas voltas à cabeça, mas ainda não descobri que tipo de mentalidade se esconde por detrás deste fenómeno – “é grátis, logo não tem direito a caixote do lixo”? Ou “é grátis, por isso não conta para o balanço ecológico”? Ou “é grátis e tem pernas para subir sózinho para o contentor mais próximo”?
Grátis ou não – invisível, estético e decorativo é que não é quando tem o paradeiro final por ruas e travessas!...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Transição
O Verão fez as malas e deixou-nos definitivamente, deixando a moradia com as portas abertas para o Outono, que já se está a instalar. É nas pequenas coisas que se nota a transição: o orvalho que cobre tudo de manhã cedo. Os bandos de pássaros em formação batendo a retirada. Já não se ouvem os gritos estridentes das andorinhas, que foram fazer as suas acrobacias para outras paragens. O zumbido irritante dos insectos silenciou-se. O vento tornou-se uma presença mais ou menos permanente, que me despenteia e ondula levemente a superfície da água. A praia está praticamente deserta. O mar arrefeceu, já só convida a molhar o pé – ou aos mergulhos dos verdadeiros vikings, os banhistas de Inverno, que nadam de corpo inteiro, mas nunca mais de 2-3 minutos nesta altura do ano. Só se vê um ou outro barco à vela solitário. O céu mostra-se sarapintado de nuvens mesmo quando está o mais azul possível. Os casacos já entraram em circulação e as sandálias vão a caminho do fundo do armário até à próxima estação estival.
Ontem ainda vim de sandálias e blusa de manga curta, mas tenho um casaco na mala, para não ser apanhada desprevenida. E um par de meias.
O Outono também tem os seus encantos (que de momento não me vêm à memória...), mas não me importava de ter tido mais um mesinho de Verão. Ou dois.
Por fim visto o casaco e calço as meias e deixo o sol aquecer-me o rosto.

domingo, setembro 10, 2006


Maravilhas da internet
Domingo passado foi um dia incrível para mim! Se bem se lembram foi o dia em que o meu marido, cheio de cuidados em relação à minha saúde mental, me levou ao treino da nossa selecção num clubezinho a poucos minutos de nossa casa. E se bem se lembram foi também nessa mesma ocasião memorável que, com o entusiasmo, me esqueci de levar um rolo extra e me arrependi de não ter ainda uma máquina fotográfica digital, vindo de lá com o autógrafo mas sem a fotografia do Cristiano – e ele ali mesmo ao meu lado... ai!... Pois!...
Desde então que me pus a raciocinar: nesta era em que tudo se encontra na internet, não terá alguém lá posto fotos desse grande dia? Não é possível! Pesquisa após pesquisa e nada. Mas, voilá!: Ontem as minhas pesquisas finalmente deram fruto - e do maduro até! Vejam lá se reconhecem alguém nestas fotos... (alguém para além da estrela, obviamente)
Iupiiiiiiiiiiiii!!!!!
... Nunca mais digo mal da internet. Nunca mais! : D

sábado, setembro 09, 2006

A minha mala e eu
Nunca percebi como é possível vender às mulheres malinhas mínimas, tão minúsculas que mais parecem carteiras. Isto porque a minha mala é grande e espaçosa – o meu marido apelida-a de ”a mala da Ma Dalton” pelo feitio e tamanho que tem (e não por andar com um revólver lá dentro). É que andando eu constantemente fora de casa sinto que preciso de andar preparada para qualquer eventualidade. O conteúdo varia, é claro, dependendo de onde vá e com que propósito. Mas no mínimo costuma conter: o telemóvel, a carteira, a agenda, as chaves de casa, duas esferográficas, um bloco, um ou dois pensos, os óculos de sol (de Verão), as chaves do carro, uma garrafa de água, a máquina fotográfica (que ainda não é das compactas digitais), um rolo e uma bateria extra para a máquina fotográfica, um livro, o baton para o cieiro, lenços de papel, um penso higiénico, montes de talões, bilhetes de cinema, etc caídos no fundo, por vezes um par de meias, uma caixinha de pastilhas de mentol e aspirinas.
Como é que eu conseguiria levar isto tudo numa mini-mala de dez por cinco?!...

sexta-feira, setembro 08, 2006

Farmácias não!…
Na semana passada vi-me obrigada a ir à farmácia. É daquelas coisas que adio até não poder mais, porque se há coisa que odeio são farmácias. Aquele aspecto clínico, o cheiro doentio a medicamentos, o ar triste e oprimido de tantos que certamente lá vão com mais frequência e urgência que eu em busca de tratamento para as suas maleitas. A conversa baixa e privada demais com o farmaceuta – “olhe, tenho este mal de bexiga, esta dôr, esta ferida que não quer sarar e o meu médico receitou-me x, y e z”. Os olhares de dó dos que lá vão comprar tetinas e bagatelas para com os que realmente parecem enfermos, inválidos, em sofrimento. Ou os olhares de indiferença e desconforto perante o padecimento de outrém. Ou os olhares de desdém e o trocar pouco subtil de sussurros entre conhecidos: “aquele deve ser drogado!..”
Por todas estas razões evito farmácias a todo o custo. Tiram-me a paz de espírito, deixam-me quase doente.

quinta-feira, setembro 07, 2006


O mundo politicamente correcto
Quando eu era miúda o Lucky Luke andava sempre de cigarro na boca e o Tintin era descaradamente racista em relação aos africanos (se não se lembram, voltem a ler o “Tintin no Congo” na sua versão original. É uma obra-prima da cultura imperialista e colonialista europeia do século passado). Nas novas edições do Lucky Luke ele agora já deixou de fumar (apesar de continuar a andar com um saquinho de tabaco atrás! Para quê?) e anda sempre com uma erva seca ou palha na boca. E o Tintin deve ser tão colonialista e politicamente incorrecto para os dias que correm, que não terá certamente remédio possível, daí duvido que voltem a editar novos albuns.
Lembrei-me deste assunto a propósito do Tom e Jerry a quem já não é permitido aparecer a fumar cigarros, charutos ou cachimbo no canal infantil Boomerang. Nem sequer me lembrava que havia cenas deles de charuto na boca – vejam só o que me denegriu e afectou a mente!... Ainda não se sabe que cenas irão ser censuradas; mas se começam a censurar o Tom e Jerry para os pôr a par do tempo em que vivemos, mais vale a pena acabarem com o desenho animado em causa de uma vez por todas, porque se bem me lembro há n cenas de violência gratuita, n cenas em que o Jerry desrespeita o Tom e é atrevido e rouba queijo, etc – todos estes certamente maus exemplos para as mentes infantis e puras das nossas crianças…
E já agora que estamos numa de limpeza, porque não abolir as brincadeiras de índios e cowboys que certamente têm a sua inspiração no genocídio dos povos indígenas na America do Norte nos séculos XIX e XX? Se fôrmos a ver haverá sem dúvida muitíssimo no mundo da miudagem por onde limpar... o engraçado é escolherem começar pelos desenhos animados e bandas desenhadas que, segundo saiba, não tiveram impacto significante no meu desenvolvimento psicológico. Mas vou lá eu saber...

quarta-feira, setembro 06, 2006

Rituais matinais
Não sei se já alguma vez se deram conta da quantidade e variedade de rituais que têm a certas horas do dia. De manhã por exemplo. São hábitos que normalmente passam despercebidos, até um imprevisto nos impossibilitar de trilhar a rotina diária. Como no outro dia em que o despertador não tocou. Acordei confusa e tarde. Saí da cama sem demora, em vez de ficar deitada mais cinco minutinhos como é costume para ganhar balanço para mais um dia. Não lavei o cabelo, ensaboei-me à pressa, nem apreciei sequer o fluxo do jorro de água quente sobre a pele. Sequei-me rapidamente. O tratamento facial teve de aguardar pela noite; o creme hidratante corporal foi aplicado a fugir. Vesti-me. O post desse dia ficou mal composto. Engoli um iogurte e dispensei o café que levaria tempo demais a fazer. Lavei os dentes quase com um pé na rua. Calcei-me, peguei na mala e fui à minha vida, esquecendo-me como é óbvio do pacote do almoço no frigorífico. Do telemóvel lembrei-me mas só por acaso.
O resto do dia pareceu torto, vesgo. Não consegui acertar com o ritmo. Parecia impossível cumprir horários, cheguei com alguns minutos de atraso a duas reuniões. Terá isto sido um exemplo do dito começar com o pé esquerdo? Ou é com o direito? (Nunca atinei com isto do esquerdo e do direito por alguma razão que me ilude ainda hoje...) Parecem pequenas coisas, mas nesse dia apercebi-me da importância de poder começar o dia da mesma forma ritual de todas as manhãs de semana.

terça-feira, setembro 05, 2006

Actividades de Verão
No princípio de Agosto fui dar sangue, uma coisa que já faço com alguma regularidade, pelo menos de três em três meses (dever cívico e etc), há mais ou menos dois anos. Meio litro limpinho. Não custa nada. Foi desta vez que me apercebi de que dar sangue não é uma actividade de Verão como o surf, os mergulhos, os churrascos, os piqueniques etc. A erfermaria estava às moscas e a enfermeira confirmou que já era previsível, que é sempre assim no Verão, especialmente se o boletim metereológico para os dias seguintes não é famoso, o que tinha sido o caso nesse dia radioso de sol.
Hmmm...ir para a praia, ou dar sangue? Ir para a praia, ou dar sangue? Uma escolha deveras difícil e penosa. Nesse dia dei sangue. E depois despachei-me e fui para a praia.
Se um dia tiver o azar de ter um acidente grave e de precisar de uma transfusão de sangue urgente, espero pelo menos que não aconteça no Verão em que o banco de sangue está devedor...

segunda-feira, setembro 04, 2006

Hino à amizade
Recentemente fomos visitar uma amiga da universidade. Tinhamos mantido o contacto através de email (falar ao telefone não é comigo); mas já não nos viamos há 4 anos, vivendo em lados opostos do país. Confesso que fiquei com nervoso miudinho, lembrando-me de visitas penosas a pessoas com que antigamente até tinha bastante afinidade, esta perdida com a falta de convivência diária. Os silêncios embaraçosos, a falta de temas relevantes em comum ou até de interesse, o contar dos minutos, o constrangimento nessa companhia, os olhares surrateiros para o relógio, a vontade enorme de fugir a sete pés, o alívio de finalmente ser legal fazer as despedidas. O “depois falamos” da praxe que mutuamente não passa de uma frase oca.
Recentemente fomos visitar uma amiga da universidade, que se voltou a mudar para perto de nós. Já não a viamos há 4 anos, mas correu às mil maravilhas. A conversa desenrolou-se livremente, raras foram as pausas, rimos bastante, falámos das nossas vidas actuais e de outrora, hora após hora que pareciam escassos minutos. Soube bem retomar o contacto face a face. Quando fizémos as despedidas lá para o fim da tarde sabíamos intuitivamente que nos voltariamos a encontrar em breve.
Tenho uma ou duas outras amigas com quem só lido de ano a ano nas minhas idas a Portugal e cujas amizades não são afectadas pela comunicação esporádica à distância. É engraçado como com algumas pessoas nunca se perde o à vontade, apesar da passagem do tempo e da escassa convivência, enquanto que outras amizades que na altura pareciam profundas e duradouras se vão pelo cano a baixo quando a vida dá outras voltas que não permitem já um dia a dia partilhado.
Outro bónus da visita de há dias foi descobrir uma nova maneira de soletrar "pizza": P-I-T-Z-A! Se fôr boa a pizza (e já me foi dito que é) ignoro a gralha.

domingo, setembro 03, 2006


Remédio santo!
Está cientificamente provado que o melhor tratamento para a desordem de stress pós-traumático é o confronto ou exposição ao trauma original. E o meu marido, que é um amor e só quer o meu bem, fez-me a vontade e fomos ver o penúltimo treino da selecção em Dragør hoje às 17 horas. Voltei a ver os dribles e fintas, os penaltys, as jogadas do meio campo, os truques de mestre do Cristiano. Não estava nada à espera, mas saí de lá com vários autógrafos dos nossos meninos, a quem desejámos boa sorte na Finlândia amanhã: do Nuno Gomes, do Deco (muito simpático), do Paulo Ferreira, do Ricardo, do mister Filipão Scolari - e, está claro, do Cristiano! Que emocionante tê-lo ali a poucos passos de mim. E logo por azar fiquei sem filme e não me lembrei de levar um extra... : ( Assim não poderei documentar que estive na presença do "miúdo maravilha" e que o vi com a barba por fazer e o cabelo com madeixas subtis e ligeiramente em pino. Mas ficar-me-á gravado na mente para sempre. E estou feliz da vida e aparentemente curada.



Rewind e replay
Depois de uma experiência particularmente emocionante a mente - pelo menos a minha - tem tendência de repetir os pontos altos vez após vez após vez. Posso tentar distrai-la, mas assim que me distraio eu, acaba sempre por voltar ao ponto de partida e mais vale deixá-la. E depois do Dinamarca-Portugal de Sexta-feira à noite não foi excepção, é claro. É como se me afectasse um caso ligeiro e positivo (muito positivo!) de desordem de stress pós-traumático, nada a fazer senão esperar que passe... por isso, queridos leitores, tenham paciência comigo. Espero voltar ao normal já amanhã... senão marco uma urgência. Por hoje imaginem que a minha mente funciona como a RTP que repete e volta a repetir os mesmos filmes.
Nunca vos acontece isto?